O conceito do “tokenismo” é fácil, muito fácil de ser identificado, especialmente em ambientes de classe média alta em diante. Em se tratando de Brasil, esses ambientes são majoritariamente brancos e hegemônicos, mas todo cuidado é pouco.
Desconfie se nesses ambientes você se deparar com uma única pessoa negra. Sim, a síndrome do negro único é uma consequência perversa do racismo estrutural, onde grupos supremacistas brancos “permitem” a entrada de uma única pessoa preta para usá-la como escudo e/ou blindagem contra uma possível acusação de racismo. Mal comparando, é o bom e velho “não sou racista, tenho um amigo negro”.
Mas para além das relações sociais, o “tokenismo” vem ganhando bastante território também no mundo corporativo e até mesmo nas artes, onde pessoas pretas são diretamente “assediadas” por apenas um único motivo: a cor de suas peles.
Sabe aquele e-mail de uma empresa que já começa falando: “estamos pensando em contratar pessoas pretas e pensamos em você”?
Sabe aquele convite para participar de um debate sobre cultura e só vemos uma pessoa negra?
Pois então, são essas as armadilhas comuns do “tokenismo”, que vem se tornando bastante comum em espaços outrora dominados pela branquitude,
O tokenismo é uma armadilha desse grupo para despistar o racismo, de modo que possam passar imunes aos olhos da opinião pública. Opinião pública essa agora cada vez mais consciente sobre questões que tangem a pauta de raça e gênero, por exemplo.
Com o advento da primavera do feminismo negro a partir de 2015, a pauta da diversidade vem ganhando cada vez mais destaque em todos os setores da sociedade. O auge do auge se deu a partir de junho deste ano com o assassinato do cidadão afro-americano George Floyd por um policial branco em Minnesota, nos Estados Unidos.
A brutal cena filmada, que viralizou em tempo real pelo mundo todo, chocou o planeta e levou às ruas milhares de pessoas, brancas e negras, protestando contra o racismo. A pauta antirracista passou a ser a grande bola da vez e, com isso, muitos setores da sociedade, outrora exclusivamente brancos, passaram a utilizar a carta do “tokenismo” como uma manobra para disfarçar a desigualdade racial que sempre perpetuaram.
Todavia, a sutileza não faz parte da cartilha antirracista de uma grande parcela desses grupos. A diretora de marketing da provedora global de filmes e séries de TV via streaming, Netflix, a poderosa executiva afro-americana Bozoma Saint John, postou em suas redes sociais recentemente parte de sua fala sobre “tokenismo”:
“É um insulto ser ‘convidada’ para desempenhar uma função sob o argumento de que a empresa procura uma mulher negra porque ‘está reformulando a sua imagem’. É um insulto para o meu currículo, um insulto para as minhas conquistas. Se eu consegui essa posição de trabalho é porque eu sou a melhor e não porque eu sou uma mulher negra. Ser negra é apenas um toque a mais.”
Mesmo assim o assunto é sério, e precisamos, enquanto sociedade, estarmos atentos para essa prática racista. Em um país onde 56% da população se declara preta ou parda, deve ser obrigatória a proporcionalidade racial em todos os espaços em uma nação democrática.
Fonte: HuffPost Brasil