Era uma quarta-feira, dia 19 de setembro, quando por volta das 22:00 eu resolvi ir ao hospital mais uma vez. Antes disso já tinha ido outras duas vezes, com fortes contrações. Mas, havia dilatado apenas 2cm e os médicos não tinham porque me internar, pois ainda não estava em trabalho de parto ativo. Eu havia ido na terça, dia 18, e nada ainda. Aquela noite foi longa por conta das dores (neste estágio ainda leves) e também pela ansiedade em ter logo o bebê nos braços.
Na manhã de quarta-feira, na primeira ida ao banheiro percebi que o tampão havia saído. O tampão mucoso parece um gel com rastros de sangue e pode ser um sinal de que o trabalho de parto se aproxima. Como naquela manhã eu tinha uma consulta de pré-natal agendada no Posto de Saúde da Família, fui no horário marcado. Nem cheguei a ver a médica que me acompanhava. Logo na chegada ao PSF, depois de comentar com as enfermeiras da triagem que o tampão havia caído e que as contrações estavam bem ritmadas, elas me encaminharam novamente para a maternidade.
Já era final da manhã quando, ao me examinar, o médico plantonista explicou: “Você só dilatou 2cm ainda. Mas, não deve passar desta madrugada ou de amanhã. Volte para casa, acompanhe as contrações, tome banhos quentes, relaxe, caminhe e volte quantas vezes achar necessário”. Fiquei um pouco nervosa em ter que voltar para casa mais uma vez. As dores ficavam cada vez mais fortes e eu, com 40 semanas e três dias de gestação, já não suportava mais a ansiedade. Assim como as instruções médicas, passei a tarde entre banhos, caminhadas dentro de casa mesmo, refeições leves, descanso e reflexão para me manter calma e me preparar ainda mais para o nascimento do meu bebê.
Só aguentei as dores até às 22 horas, como contei no início do texto. Acionei mais uma vez o marido e minha mãe, que já estava comigo há três dias, pronta para ajudar com o recém-nascido. Os três seguiram de volta ao hospital com a esperança de sair de lá apenas com o bebê.
Durante a consulta de emergência, duas fortes contrações em menos de cinco minutos. A médica plantonista já antecipou que era um bom sinal. Mas, depois de mais um toque, infelizmente o mesmo resultado: 2 cm de dilatação. No entanto, desta vez, a obstetra quis checar o estado do bebê de forma mais detalhada. Foi realizado um exame e constatado que o bebê estava em sofrimento fetal.
Menos de um minuto depois de pensar que o parto normal começaria ali, recebo a notícia de que seria encaminhada imediatamente para uma cesariana. Perdi o chão neste momento. Durante toda a gestação eu me preparei de todas as formas para o parto normal. Não considerava nenhuma outra possibilidade e este foi um erro.
Aos prantos, sem aceitar a necessidade de uma cirurgia de emergência, recebi carinho e inúmeras explicações da equipe de profissionais de saúde. Já na mesa de cirurgia, me preparando para a cesárea, a pediatra que acolheria meu bebê para os primeiros cuidados segurou a minha mão e pediu que eu me acalmasse. Disse que entendia minha frustação por não conseguir o parto normal, mas que aquele procedimento era pelo bem do meu filho. Ele não suportaria as prováveis 10 ou 12 horas de trabalho de parto que eu ainda teria pela frente. Naquele minuto, me entreguei totalmente nas mãos dos profissionais.
Quarta-feira, 19 de setembro de 2018, às 23:54, mesmo anestesiada, senti retirarem o meu bebê, que logo chorou mostrando que estava ótimo de saúde. Enrolado num pano a meu pedido (não queria saber o sexo do bebê sem o Lauro ao meu lado), vi seu rostinho pela primeira vez. A equipe comemorou que havia tudo ocorrido perfeitamente. E em pouco tempo eu já estava na sala de observação. Lauro entrou logo em seguida e atrás dele a enfermeira trazia nosso filho no colo. ‘Vamos conhecer papai e mamãe’, ela disse. E, fazendo suspense perguntou: ‘O que vocês acham que é? ’. Nós dois nem tivemos tempo de responder quando ela arrancou a fralda, nos apresentando um menino lindo e saudável. Enzo estava caladinho e com olhar sereno. Sob fortíssima emoção, senti um alívio imenso por tê-lo nos braços e ao mesmo tempo lamentei por ele já não estar mais dentro de mim. Uma nova história começaria ali.
Menos de 20 minutos nos meus braços, com o papai ao lado, Enzo foi colocado no peito para fazer valer a Hora de Ouro. Como esperei por este momento e meu filho foi por demais generoso comigo. Ainda tranquilo como havia chegado, ele grudou no meu peito como quem já soubesse o que fazer. A natureza, perfeita como é, foi vencedora. Enzo mamou na primeira hora de vida, garantindo a ele mais saúde e a mim, o melhor momento da minha vida.
Dois dias de observação no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), todos os testes e exames feitos, Enzo teve alta com êxito. O mesmo aconteceu comigo. A cicatriz da cesárea já começava a secar, minha recuperação prosseguia dentro do esperado e pudemos vir para casa.
Sentei agora, 15 dias depois do parto, para finalizar este projeto. A série “Tô Grávida e agora?” foi idealizada lá no início, logo após o exame positivo para gravidez. O intuito era compartilhar com outras gestantes e quem quisesse saber mais sobre os detalhes de uma gestação. Acho que cumpri o objetivo. Ah, já peço desculpas pela demora em escrever e compartilhar o texto final. Enzo ocupa quase que todos os minutos do meu dia e isso é bom demais. O cansaço e o sono são meros detalhes. E eu expressaria em palavras o que significa a maternidade. Mas, perdoe esta mãe, que mesmo jornalista, perdeu as palavras. Não há, em minha opinião, como descrever este amor. Estou aqui, mãe de primeira viagem, descobrindo tudo para quem sabe um dia saber explicar.
Obrigada a todos que leram todos os textos da série. Obrigada aqueles que leram apenas um dos textos. Obrigada pelos comentários e manifestações de carinho. Encerro aqui este projeto, com coração cheio de gratidão. Um beijo da mamãe e outro beijo do Enzo para vocês.
Fonte: Blog da Saúde