Seja pelos pudores em falar sobre saúde íntima ou até mesmo pelo desconforto sentido durante os procedimentos, exames ginecológicos nem sempre são seguidos à risca e até podem ser deixados de lado, prejudicando a saúde. Isso porque algumas dessas análises servem justamente para rastrear precocemente possíveis doenças graves, como é o caso do papanicolau.
Segundo o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, dos hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, o papanicolau tem como principal finalidade a identificação de lesões que podem ser precursoras do câncer de colo de útero ou do próprio câncer de útero. Por isso, é chamado de “rastreio”, ou seja, serve para identificar a presença de alterações que, se não tratadas, podem levar a tais neoplasias.
“O exame também pode identificar lesões nas células sugestivas de infecção por HPV (vírus do papiloma humano) e, eventualmente, algumas outras infecções, pois também permite a observação de algumas bactérias, como a Gardnerella, e fungos, como Candida e Trichomonas”, acrescenta o especialista.
Quando realizar o papanicolau
Lilian Fiorelli, ginecologista e especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia, explica que existem diretrizes do Ministério da Saúde a respeito da realização do exame. Juntamente com o Instituo Nacional do Câncer (Inca), o órgão aprovou um guia no qual orienta que o papanicolau seja colhido em mulheres a partir dos 25 anos e com vida sexual ativa, repetido até os 64 anos.
A diretriz define também a periodicidade dessa coleta. Assim, se dois exames anuais e consecutivos tiverem resultados dentro da normalidade, sem nenhuma alteração, a paciente poderá repeti-lo a cada três anos – e não mais anualmente.
Contudo, apesar de recomendada e baseada em estudos, essa conduta não é obrigatória. Logo, a repetição pode acontecer em um intervalo menor, como a cada ano, sobretudo nos atendimentos particulares. “É preciso individualizar o atendimento, focando nas necessidades e zelando pela saúde da paciente”, comenta Lilian.
Alexandre acrescenta que o rastreio pode ser feito antes dos 25 anos recomendados, sobretudo no caso de imunossuprimidas por doença ou transplante e as mais jovens que já apresentem alterações no colo do útero ou lesões sugestivas de HPV nos exames ginecológicos.
Como é o exame
Para a realização do papanicolau, o médico usa o aparelho chamado de “bico de pato” para entreabrir o tubo vaginal, permitindo que ele tenha visão e consiga identificar o colo uterino. A colocação do equipamento pode causar certo desconforto, mas isso não é regra.
Na sequência, são colhidas as células do colo do útero. Usualmente, deve-se usar uma espátula de plástico ou madeira para a raspagem. “Essas células são ‘esfregadas’ em uma lâmina de microscópio, onde é feita a análise pelo citologista”, explica o obstetra. Esse movimento interno não chega a ser uma sensação dolorosa, mas pode ser incômodo.
O exame, porém, conta com uma segunda parte, quando é adotada escova endocervical (como as de rímel, sabe?), que é colocada no canal endocervical, onde é feito um giro – na verdade, são de 3 a 5 rotações em 360 graus.
O que for colhido também é depositado na lâmina para análise. Com base nisso, serão identificadas eventuais bactérias, fungos, tipos de células, coloração e se existe risco de alteração no colo do útero ou não.
Contraindicações existem
Algumas condições podem dificultar a coleta do exame ginecológico ou até mesmo influenciar no resultado. Portanto, é importante ficar atenta às contraindicações para estar apta ao procedimento na data marcada.
Dentre situações que podem afetar, a uroginecologista cita a menstruação ou sangramentos e a gravidez – principalmente no primeiro e terceiro trimestres. Logo, caso seja realmente necessário coletá-lo, vale dar preferência ao segundo trimestre.
“Não há indicação em pacientes virgens, mas também não existe uma contraindicação, caso o papanicolau seja necessário. Em pacientes imunossuprimidas ou com HIV (vírus da imunodeficiência humana), que têm riscos aumentados, o exame pode ser considerado. Já na gestação, o ideal é que os resultados estejam em dia antes de engravidar”, destaca Lilian.
Além disso, a especialista reforça a importância de estar a 48 horas sem estímulos vaginais, como relações sexuais ou a realização de outros exames ginecológicos. Em vista disso, é importante agendar a coleta para uma data em que esse preparo seja viável e, assim, a paciente esteja apta a realizá-la, eliminando possíveis interferências no resultado.
Resultado deu alteração. E agora?
Muita calma nessa hora! Antes de qualquer coisa, vale lembrar que apenas a leitura médica pode constatar se houve mesmo uma alteração no resultado, identificá-la e definir qual abordagem seguir.
Uma vez avaliado pelo ginecologista e constatadas alterações, um novo protocolo passa a ser seguido – diferente daquele indicado pelas diretrizes, afinal, não se trata mais de um exame dentro da normalidade.
“Com o papanicolau alterado, mostrando infecção por HPV, mesmo que leve, o exame passa a ser feito a cada seis meses e pode ser complementado com genotipagem, vulvoscopia, colposcopia e até avaliação com histeroscopia, se necessário. A nova frequência estabelecida dependerá muito do resultado e dessas possíveis alterações”, orienta a ginecologista.
Até que idade devo fazer o exame?
Conforme indicado pelo Ministério da Saúde e pelo Inca, 64 anos é a idade final para a realização do papanicolau, desde que os dois últimos exames anuais tenham conclusões dentro da normalidade. Porém, do mesmo modo que a idade inicial pode ser personalidade e individualizada de acordo com a paciente, a faixa etária máxima também é passível de variações.
“Chegando aos 64 anos, não é mais necessária a coleta, porque, com a menopausa, diminui-se o risco de contrair o HPV. Eventualmente, para quem ainda mantém vida sexual ativa ou já teve fator de risco, podemos estender essa coleta. Se o orifício do colo do útero for aberto, o papanicolau pode ser feito até os 69 ou 70 anos em uma conduta mais personalizada”, conclui o médico Alexandre.
Fonte: Universa Uol