Primeiro caso foi registrado em PE: Guilherme, que tem um ano de idade. Pesquisadora defende que bebês sejam acompanhados até 6º ano de vida
Com um ano de idade, Guilherme é o primeiro caso registrado de microcefalia adquirida. A expressão é usada para designar bebês de mulheres infectadas pelo vírus da zika durante a gestação que apresentaram os sintomas da malformação somente alguns meses depois do nascimento. Eles nascem aparentemente saudáveis. No caso de Guilherme, os sintomas apareceram depois de 4 meses de vida. [Veja vídeo acima]
A pesquisadora e neuropediatra Vanessa Van Der Linden acredita que os bebês precisam ser acompanhados até o 6º ano de vida. “O dano cerebral está ali, mas a aparência de saudável pode enganar. Nesses casos, a microcefalia só fica evidente com o acompanhamento. O pediatra precisa ficar alerta e acompanhar o bebê. Qualquer desvio psicomotor e da curva, é preciso encaminhar para o neurologista, se houver essa desaceleração do perímetro cefálico, para a gente iniciar logo a estimulação dessas crianças”, ressalta a especialista, destacando que Guilherme foi o primeiro entre os bebês estudados a apresentar microcefalia adquirida.
Guilherme só foi apresentar os sintomas aos 4 meses de idade (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Ela integrou o grupo de pesquisadores que descobriram a microcefalia adquirida. O estudo, publicado na terça-feira (22), reúne contribuições de médicos e pesquisadores de Pernambuco, Goiás, Ceará e Estados Unidos. Além de Guilherme, a pesquisa dos Centros de Controle e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) ainda aponta outras 10 crianças em Pernambuco e três no Ceará.
Mãe de Guilherme, Germana Soares, teve zika durante a gestação. Ela diz que se não fosse a suspeita de uma médica por conta do surto da doença, a confirmação de microcefalia, talvez, só teria acontecido após os 4 meses de vida do filho.
“Ele só começou a apresentar atraso no desenvolvimento aos 4 meses e convulsionou pela primeira vez no 5º mês. Imagina se essa médica, esse anjo, não tivesse suspeitado só porque eu tive zika. Meu filho estaria meses sem o estímulo tão necessário para ele”, diz.
Gordinho e bastante esperto, Guilherme nasceu com 33 centímetros do perímetro cefálico, considerado normal para os médicos. Por ele ser tão sapeca, a mãe de Guilherme conta que ainda costumam duvidar que o filho tem a malformação.
“Os médicos olhavam os exames dele, olhavam para ele e não entendiam nada. Parecia até que era uma mentira. Ainda hoje duvidam. Inclusive, as próprias mães que também têm bebê com microcefalia”, revela.
Porém, o pequeno sofre com espasmos pulmonares, epilepsia aguda e uma dificuldade motora que compromete todo seu lado esquerdo. Ele, por exemplo, não tem força para segurar objetos e chega até a esquecer que tem o seu braço esquerdo.
Aos 10 meses, Allan Miguel só foi diagnosticado com a malformação com quase 7 meses (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Allan Miguel é outro caso de bebê com microcefalia adquirida. Ele só levantou suspeitas da pediatra aos 6 meses. Hoje com 10 meses, a confirmação do diagnóstico de microcefalia chegou apenas quando Allan estava prestes a completar 7 meses.
“Ele nasceu com um perímetro cefálico de uma criança normal, 33,5 centímetros. Mas, com 6 meses, ele não sentava e não levava as coisas até a boca como as crianças, geralmente, fazem”, conta Brenda Santana, a mãe dele. O atraso motor e, principalmente, a curva lenta do crescimento do perímetro cefálico foram determinantes para encaminharem Allan ao neurologista.
Por ter tido sintomas brandos do vírus da zika, Brenda garante que não sabia que teve a doença e que, por isso, foi para casa sem nenhuma suspeita. “Ninguém entendia como aquilo era possível. Se tivéssemos descoberto antes ele já estaria sendo acompanhado há algum tempo, mas não adianta lamentar. Tem que pensar daqui para frente”, afirma.
Para Van Der Linden, o acompanhamento pediátrico de crianças que nasceram durante o surto do vírus da zika é crucial para descobrir possíveis novos casos da malformação. Ela ressalta também que é crucial o entendimento de que a microcefalia adquirida é consequência de uma infecção que ocorreu intraútero.
“Apesar de a microcefalia ser evidenciada após o nascimento, o dano neurológico foi prévio. Não sabemos porque umas crianças têm o quadro mais grave e outras mais leve. Vamos entender agora se houve uma alteração continuada ou se o dano causou essa desaceleração”, encerra.
Fonte: G1