Segunda reportagem da série especial mostra que por quase meio século, o percentual de mulheres na Câmara foi inferior a 2%. A população indígena é que a tem a mais baixa representação no Congresso: apenas uma parlamentar.
A segunda reportagem da série especial do Jornal Hoje sobre eleições e representatividade fala sobre a busca de mulheres e indígenas por mais espaço na política.
Um levantamento preliminar mostra que houve um aumento de candidatos que se autodeclararam indígenas: neste ano serão 173, pouco mais do que o dobro registrado em 2014. Ainda de acordo com os números do TSE, este ano serão 9.353 mulheres candidatas a cargos públicos, índice superior ao registrado nas eleições de 2018 e nas eleições de 2014.
Ser pioneira no Senado da República não deu a Eunice Michiles igualdade para o exercício do mandato. “Não era para ser colega, não, era para ser, vamos dizer, a dama sentada lá, uma senhora lá, era muito bonito isso, mas não era para ser senadora”, diz.
Em 1979, quando chegou ao Congresso Nacional, o país ainda vivia sob a regência de leis ofensivas à dignidade da mulher.
“A mulher que não fosse encontrada virgem poderia, entre aspas, ser devolvida por erro essencial. Isso dá-se uma conotação muito clara de como nós éramos consideradas objetos, porque o objeto no caso deveria ser adquirido novo, sem uso, zero quilômetros, e no caso de não ser assim poderia ser devolvido como objeto avariado”, explica Eunice.
O artigo do Código Civil só foi derrubado em 2001.
Por quase meio século, o percentual de mulheres na Câmara foi inferior a 2%. O primeiro aumento mais significativo só ocorreu em 1986, quando a bancada feminina foi criada. Neste ano, quase 6% das cadeiras passaram a ser ocupadas por mulheres.
Nas eleições seguintes, o número de deputadas foi crescendo, mas em percentuais ainda tímidos. A eleição de 2018 foi a que colocou o maior número de deputadas na Câmara: 77. Mesmo assim, as eleitas correspondem apenas a 15% do total dos 513 parlamentares.
Indígenas na política
Resistência é a chave para não esquecer as origens. Princípio que também vale para outro grupo politicamente subrepresentado. Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, cerca de 5 milhões de nativos habitavam o território nacional. No censo de 2010, 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas, representando 0,4% da população nacional.
“Eu tenho uma consciência coletiva dentro de mim, e uma ancestralidade dentro de mim, então Se estou no TSE hoje, é a Samara, indivíduo, que está aqui, mas é a Samara Pataxó, eu represento também outras pessoas, eu trago comigo uma ancestralidade, uma bagagem ancestral do meu povo”, diz Samara Pataxó, advogada e assessora de inclusão e diversidade do Tribunal Superior Eleitoral.
A população indígena é que a tem a mais baixa representação no Congresso, apenas uma parlamentar.
Jaciara Borari é presidente da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Tapajós. O núcleo ajuda as mulheres a reagir contra a violência doméstica, incentiva a economia criativa para gerar renda para as vítimas e esclarece as comunidades sobre o voto consciente. A associação acompanha com preocupação as pautas indígenas em Brasília.
“Tem gente que finge que defende a nossa causa, mas quando chega na hora, não defende. É muito disso, que a gente começa aqui em baixo colocando, ajudando, dando esse suporte para que as pessoas entendam o que é uma política. A gente precisa ter a cara de olha e falar, eu vou votar em você porque você é minha cara”, diz Jaciara.
Fonte: G1