Um alerta global foi emitido nesta terça-feira (13) pela ONU Mulheres: metade das organizações que atendem mulheres em situação de vulnerabilidade pode encerrar suas atividades nos próximos seis meses, devido a cortes drásticos no financiamento da ajuda humanitária internacional.
O relatório, que ouviu 411 ONGs em 44 países afetados por crises e conflitos, mostra que 90% dessas organizações já sentem os efeitos da redução de recursos. E o impacto é devastador: projetos de combate à violência de gênero, saúde reprodutiva, apoio psicológico, assistência jurídica e acolhimento a sobreviventes estão sendo encerrados por falta de verba.
Cortes nos EUA desencadeiam crise global no atendimento às mulheres
A crise se agravou com a política externa adotada nos últimos anos pelos Estados Unidos. A suspensão de bilhões de dólares em programas de ajuda humanitária durante a gestão do ex-presidente Donald Trump e o desmonte da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) atingiram em cheio as organizações de base — muitas lideradas por mulheres — que atuam em territórios fragilizados, inclusive no Brasil.
Segundo a ONU Mulheres, essa política de “América em primeiro lugar” reduziu em 40 milhões de dólares (R$ 225 milhões) o orçamento da instituição, inviabilizando projetos essenciais em diversas partes do mundo.
“Muitas organizações de mulheres estão sendo levadas ao limite”, afirmou Sofia Calltorp, diretora da ONU Mulheres em Genebra. No Afeganistão, por exemplo, unidades de saúde voltadas para mulheres foram fechadas, obrigando muitas delas a caminhar por horas para acessar serviços básicos. Na Ucrânia, mais de 70% das ONGs femininas relataram interrupções nas atividades — como abrigos, apoio jurídico e atendimento psicológico.
Organizações mais afetadas lidam com violência de gênero e saúde
O relatório aponta que 62% das ONGs pesquisadas já reduziram seus serviços. As mais impactadas são aquelas que atuam no enfrentamento da violência de gênero, seguidas pelas que oferecem assistência médica e alternativas de sobrevivência para mulheres e meninas.
Essas organizações são fundamentais para garantir direitos básicos, dignidade e vida segura para mulheres que vivem em contextos de guerra, perseguição, deslocamento forçado ou pobreza extrema.
Crise também ameaça operações de paz
Além das ONGs, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que as operações de manutenção da paz também correm riscos, caso os países membros não cumpram suas obrigações financeiras. Atualmente, a ONU lidera 11 missões de paz em regiões como o Congo, Sudão do Sul, Líbano e Kosovo. O orçamento já sofreu uma redução de 8,2% em relação ao ano anterior, e há risco de colapso operacional.
A Alemanha se comprometeu a ampliar seu apoio, mas Guterres enfatizou: “São tempos difíceis para o financiamento do nosso trabalho em todos os setores. Mudanças dolorosas serão inevitáveis.”
O que está em risco
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Projetos de combate à violência de gênero
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Serviços de saúde e saúde reprodutiva para mulheres e meninas
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Apoio jurídico e psicológico em regiões de conflito
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Abrigos e centros de acolhimento
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Missões de manutenção da paz em zonas instáveis
O PV Mulher reitera seu compromisso com a luta global pelos direitos das mulheres e o fortalecimento das organizações de base feministas. Cortes no financiamento não podem significar cortes na vida e nos direitos das mulheres.
Fonte: IstoÉ