Acordamos esta manhã com a notícia de que a ativista Sabrina Bittencourt teria se suicidado. Sabrina, uma das responsáveis pelas avalanches de denúncias contra João de Deus que o levaram a prisão, vinha relatando sofrer várias ameaças desde que o caso veio à tona. Na noite de 2 de fevereiro, Sabrina postou uma carta de despedida no Facebook, falando que se juntaria a Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em 14 de março de 2018.
Em seguida, seu filho Gabriel Baum confirmou a morte da mãe na rede social. O grupo Vítimas Unidas, do qual Sabrina era membro, publicou uma nota do falecimento pedindo “a todos que não tentem entrar em contato com nenhum integrante da família, preservando-os de perguntas que sejam dolorosas neste momento tão difícil”.
A reportagem ligou para as embaixadas de Angola (onde ela aparece em uma foto no mesmo dia da notícia do suicídio; veja explicação abaixo) e Barcelona (cidade onde ela vivia e teria sido encontrada morta) e eles não tinham informações sobre a morte de uma brasileira.
Os principais hospitais de Barcelona foram procurados pela reportagem, mas se recusam a dar informações sobre pacientes. A polícia da cidade também não dá informações, sob o argumento de que, como se trata de um suicídio, não podem confirmar o óbito, pois não é um crime, mas um caso de saúde mental.
A reportagem entrou em contato, também, com o plantonista do Consulado Geral do Brasil, em Barcelona, que disse que não recebeu nenhuma confirmação por parte da polícia, ainda. Explicou que, em casos de falecimento de brasileiros, é de praxe que o setor de Assistência (que não faz plantão nos finais de semana) receba no e-mail um comunicando, mas a confirmação por parte desse setor só poderá ser realizada na manhã de segunda-feira.
Seus familiares também não responderam às mensagens. “Só acreditei quando falei com o Rafa”, disse a diretora da ONG Vítimas Unidas, Maria do Carmo Santos, se referindo a Rafael Tedesco, ex-marido e melhor amigo de Sabrina.
Ao mesmo tempo em que a notícia chegava, ativistas e amigos de Sabrina trocavam mensagens sobre a possibilidade de Sabrina ter tido uma morte “simbólica”. A dúvida levantada por eles: teria a ativista decidido ter uma outra identidade, para assim viver em paz, longe de ameaças?
Sabrina estava especialmente apavorada depois de, segundo ela, o endereço onde seus filhos moravam ter sido descoberto e também pelo fato de estar sofrendo novas ameaças. Na tarde de ontem, Sabrina mandou mensagem para esta repórter e outros jornalistas relatando:.
“Estou sendo perseguida por um homem chamado Paulo Pavesi. Um guia que trabalha na Casa Dom Inácio de Loyola marcou vários matadores de João de Deus pedindo para me localizarem. Esse é o perfil dele. Ele é louco. Eu avisei que essa semana fariam milhares de Fake News ao meu respeito”.
Em uma publicação no Facebook, Pavesi diz que vai fazer um pedido à Polícia Federal para que o local do “suposto suicídio” seja investigado. Ele afirma que muitas das denúncias da ativista são mentirosas e pressupõe que ela tenha tirado a própria vida “porque não tinha como provar e sabia que não tinha outra saída”.
Fonte: Nina Lemos