Experimentos com animais também revelaram outra possível sequela da doença: infertilidade nos machos
Uma vacina contra o vírus da zika em desenvolvimento pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém, mostrou ser capaz de prevenir a transmissão da doença e o contágio de filhotes durante a gestação em testes com animais. O imunizante é um dos que está em estágio mais avançado de desenvolvimento contra a doença, apontada como responsável por um surto de casos de microcefalia no país durante epidemia entre 2015 e 2016.
Os testes pré-clínicos da vacina foram realizados em camundongos e macacos simultaneamente no IEC, vinculado ao Ministério da Saúde, e em instituições nos EUA parceiras na pesquisa, e seus resultados foram relatados na edição desta semana do periódico científico “Nature Communications”.
Segundo os pesquisadores, a vacina foi bem-sucedida em seu objetivo, impedir que o vírus da zika cause microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central tanto nos camundongos quanto nos macacos. Já no grupo controle que não tomou a vacina, as fêmeas de camundongos tiveram aborto por conta da infecção pelo vírus da zika, ou seus filhotes nasceram com microcefalia e outras alterações neurológicas. Os testes em humanos devem ser realizados a partir de 2019 na Fiocruz/Biomanginhos, no Rio de Janeiro.
Os testes também foram realizados em camundongos machos e revelaram uma informação inédita sobre outra possível sequela da doença: a esterilidade. Ainda de acordo com os cientistas, a infecção pelo vírus da zika nos animais reduziu consideravelmente a quantidade de espermatozoides, a mobilidade deles (ficaram praticamente imóveis) e o tamanho dos testículos (atrofia). Esses testes, porém, não foram feitos nos macacos e não é possível afirmar que esse efeito também ocorra em seres humanos.
“Há uma preocupação de que esse achado evidencie que possa ocorrer um impacto similar entre os seres humanos, contudo ainda não há nenhum estudo que demonstre isso”, destacou Pedro Vasconcelos, diretor do IEC. “Estamos iniciando um novo experimento nesse sentido para verificar o impacto desta esterilidade na copulação dos animais. O que se sabe é que há uma grande quantidade de vírus na excreção do esperma, que significa que o vírus tem bastante capacidade de se replicar, causando a destruição das células que resulta em diminuição (atrofia) dos testículos e, consequentemente, a esterilidade.”
Os testes da vacina, porém, também tiveram sucesso na proteção de animais machos, mostrando que ela capaz de impedir danos aos testículos dos camundongos machos vacinados, à semelhança da prevenção da transmissão do vírus aos seus bebês nas fêmeas. A parceria para as pesquisas em torno da pesquisa foi firmada em fevereiro de 2016 em um acordo internacional.
O Ministério da Saúde vai destinar um total de R$ 7 milhões nos próximos cinco anos (até 2021) para o desenvolvimento e produção da vacina. O imunizante em desenvolvimento utiliza a tecnologia de vírus vivo atenuado de apenas uma dose, já que vacinas com vírus vivos geralmente se mostram altamente capazes de estimular o sistema imunológico e proteger o organismo da infecção.