No momento mais bonito da maternidade, mulheres sofrem caladas. Os abusos durante o parto vão de físicos a emocionais. A violência obstétrica pode começar com a enfermeira que pede à mulher que não grite na hora do nascimento do bebê até o médico que faz uma episiotomia indiscriminada, que é o corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída da criança.
Há três anos, Elisângela Alberta de Souza, de 37 anos, que mora em Santo André, no ABC Paulista, se sentiu como uma ‘cobaia’ ao ter o parto exposto para um grupo de estudantes de medicina. ‘Fiquei constrangida com a sala cheia, nem podia me mexer. Eles faziam os procedimentos sem me avisar. Eu fui cortada e não assinei nenhum papel’, lembra.
A Organização Mundial da Saúde defende que as mulheres precisam ser informadas dos procedimentos e que as técnicas sejam comprovadas cientificamente. A episiotomia a que Elisângela foi submetida faz parte das estatísticas do sistema de saúde. A incidência do procedimento é de 53,5% no país, embora a Organização Mundial de Saúde recomende que não ultrapasse 10%.
A diretora jurídica da Artemis, uma organização de proteção da autonomia feminina, reforça a necessidade do diálogo entre a paciente e a equipe médica. Para Ana Lucia Keunecke, os traumas de um parto podem afetar a relação da mãe com a criança. ‘Muitas vezes essa mulher está abalada e tem dificuldades no vínculo. Ela não está feliz com o filho e não sabe por que’, afirma.
No país, uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de agressão para dar à luz, de acordo com uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo.
Um caso extremo de desrespeito aos direitos da gestante ocorreu em abril do ano passado e virou uma bandeira para quem luta contra a violência obstétrica no Brasil.
Fonte: CBN