Na Europa, mulher tem um bebê com a ajuda do próprio ovário congelado.
No Ceará, médicos estão congelando o tecido ovariano
O Jornal Hoje apresenta duas boas notícias da medicina. Uma delas vem de Fortaleza, onde saiu os primeiros resultados de uma pesquisa com o tecido ovariano realizada por médicos brasileiros. A outra vem da Europa, onde uma mulher se tornou a primeira do mundo a ter um bebê com a ajuda do próprio ovário, que foi congelado quando ela ainda não tinha entrado na idade reprodutiva.
A incrível história dessa mulher, que tem a identidade preservada, aconteceu no ano passado, mas só foi divulgado nesta quarta-feira (10). A história começa na República do Congo, na África, de onde ela veio, e continua na Bélgica, onde teve o primeiro filho em 2014. O caso foi publicado em um jornal científico dedicado à reprodução humana. O procedimento foi tão bem sucedido, que os médicos já disseram que ela pode ter um segundo filho.
A mulher, hoje com 27 anos, foi diagnosticada, ainda na infância, com uma doença no sangue, a anemia falciforme, uma alteração nos glóbulos vermelhos do sangue. Aos 13 anos, ela passou por um transplante de medula óssea e, antes disso, precisou fazer quimioterapia para baixar a imunidade e reduzir os riscos de rejeição.
Temendo que a agressividade do tratamento comprometesse os ovários da paciente, os médicos retiraram um deles e congelaram fragmentos. Mas por ela ser tão jovem, sem nem sequer ter menstruado ainda, os médicos não tinham certeza se esses fragmentos poderiam ser reaproveitados no futuro.
Para piorar, aos 15 anos, o ovário que ainda estava no organismo dela parou de funcionar. O diagnóstico, então, passou a ser de infertilidade. Porém, o sonho de ser mãe desafiou a lógica e a tentativa dos médicos de preservar o sistema reprodutor da jovem deu certo. Dez anos depois da remoção de um ovário, os médicos transplantaram o tecido saudável que havia sido congelado no ovário defeituoso que ainda restava no corpo dela. Dois anos depois, ela engravidou naturalmente e, em 2014, deu à luz um menino saudável.
Os médicos dizem que ainda podem acontecer algumas coisas como, por exemplo, a transferência de células malignas na hora do transplante, mas o clima é de muito otimismo. O diretor da Associação Britânica de Reprodução comemorou. “É revolucionário”, disse.
O procedimento pode dar esperança a meninas que precisam fazer quimioterapia, por causa de uma doença como o câncer, mas que sonham em ser mãe um dia.
Inovação no Ceará
Em Fortaleza, um banco público já está congelando o tecido do ovário de mulheres que querem engravidar, mas descobriram que têm câncer e vão passar por um tratamento muito agressivo. A diferença com o caso que aconteceu na Europa é que as mulheres de Fortaleza estão congelando o tecido do ovário já adultas, em fase de reprodução.
A pesquisa possibilita que, antes de começar a quimioterapia ou radioterapia, a mulher preserve o tecido do ovário para, depois do tratamento, ele ser reimplantado e a paciente voltar a ovular.
Nessa primeira fase, a pesquisa deve atender 20 mulheres. Duas delas já estão a caminho de realizar o sonho de ser mãe: Juliana da Silva, de 29 anos, e Maria Edith Lopes, de 20. Hoje, as taxas de cura de câncer são cada vez maiores e os médicos se preocupam com a qualidade de vida das pessoas e a manutenção de sonhos, como o de ser mãe.
A auxiliar de enfermagem Juliana já tem uma filha e sempre quis aumentar a família, mas ela quase perdeu a esperança de realizar o sonho quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama. “Você enjoa, cai sua imunidade, quanto mais pra ter um filho, voltar o ovário a funcionar, os órgãos a funcionar normalmente. Pra você engravidar é bem difícil, pensei que não ia ter mais”, relata.
A esperança de Juliana só foi retomada quando ela descobriu o banco público de tecido ovariano, que congela células do ovário de mulheres que vão passar por tratamento contra o câncer e ainda querem engravidar. “As mulheres jovens, no período reprodutivo, que têm câncer, são submetidas a um tratamento quimioterápico bem agressivo e esse tratamento pode levar a uma falência ovariana precoce, implicando numa possível menopausa precoce ou até uma infertilidade”, explica o médico João Marcos.
A técnica é indicada para mulheres com menos de 40 anos e que ainda tenham ciclo menstrual. Os médicos retiram parte do tecido do ovário antes da paciente começar o tratamento contra o câncer. Depois, congelam o material a 196 graus negativos.
O tecido do ovário pode ficar congelado por tempo indeterminado. Assim que a mulher terminar o tratamento e receber alta, ele pode ser reimplantado. É esse tecido saudável que vai fazer a mulher voltar a produzir hormônios e poder engravidar. O congelamento não pode ser feito em mulheres com leucemia ou câncer no próprio ovário.
Essa técnica já permitiu o nascimento de 40 crianças no mundo, principalmente, na Europa e nos Estados Unidos. Na América do Sul ainda não há nenhum caso registrado, mas os médicos acreditam que é por pouco tempo. “Com os dados que nós temos até hoje, a pesquisa é nova, é recente, mas de 90% dos casos, o ovário volta a funcionar normalmente”, afirma João Marcos.
A estudante Maria Edith Lopes tem apenas 20 anos e antes de começar a tratar um câncer na perna, congelou um pedacinho do ovário dela, para manter o sonho de ser mãe: “Como eu sou muito jovem, futuramente eu quero ter filhos, quero ter família e isso trouxe uma esperança pra mim de futuramente ser mãe”.
Para realizar o procedimento, é preciso:
– Ter menos de 40 anos;
– Ainda apresentar ciclos menstruais;
– A coleta deve ser feita antes ou nas fases iniciais das sessões de quimioterapia/radioterapia.
Fonte: G1