Economia Solidária é como é chamado o conjunto de atividades econômicas, seja ela de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito organizados sob a forma de autogestão. Ou seja, onde a administração do negócio é feita diretamente pelos seus participantes, com democracia direta, com igualdade entre os participantes e sem a figura do “patrão/chefe”. A Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú desenvolve vários projetos nessa direção.
As agricultoras articuladas à Rede, além de produtoras de alimentos, são produtoras de conhecimentos, conhecedoras e praticantes da economia solidária. Os quintais produtivos agroecológicos, uma das nossas frentes, são exemplos desta economia sustentável. Dos quintais saem os alimentos que vão para a mesa das mulheres e suas famílias, os remédios caseiros e os alimentos para seus animais.
As experiências de economia solidária praticadas por essas trabalhadoras dentro de seus empreendimentos solidários têm contribuído para a construção de um outro modelo de economia com justiça social, igualdade e sustentabilidade. É neles que elas se reconhecem, se apoiam, se conectam, e se inspiram para construir agroecossistemas sustentáveis e com relações de trabalho justas.
Com os quintais produtivos agroecológicos, as mulheres tornam-se observadoras atentas da natureza, desde os ciclos das sementes aos ciclos hidrológicos e compartilham seus aprendizados nos grupos autogestionários, passando esses conhecimentos para outras gerações.
Produzir, comercializar e dialogar com seus consumidores, a partir dessa perspectiva, são exemplos práticos da economia solidária. Assim, o consumo solidário é realizado considerando sua contribuição para geração e manutenção de postos de trabalho sob estratégias de desenvolvimento sustentável, para preservar o equilíbrio dos ecossistemas e para melhorar o padrão de consumo dos participantes.
Nessa compreensão percebe-se que o ato de consumo não é apenas econômico, mas principalmente ético e político. A pessoa que consome um produto ou serviço cuja elaboração e/ou fornecimento impliquem na exploração de seres humanos ou em danos aos ecossistemas é corresponsável por estes feitos. É que assim, seu ato de compra contribui para que os responsáveis por essa opressão econômica e pela agressão ambiental gerem lucros e continuem a operar do mesmo modo, reproduzindo práticas socialmente injustas e ecologicamente danosas.
Em contraponto, a economia solidária se apresenta como sendo uma economia capaz de provocar transformação global. Sua prática significa a busca do bem viver pessoal em harmonia com o bem viver coletivo, em harmonia com o equilíbrio dinâmico dos ecossistemas.
A preocupação com a preservação do bioma tem sido um dos desafios que as mulheres sertanejas vêm investindo esforços, através da produção e plantio de mudas de espécies nativas, trabalhando com sementes mais adaptadas e compartilhando experiências importantes. Esse trabalho tem contribuído para a sustentabilidade dos agroecossistemas e possibilitado construir relações sociais justas e sustentáveis.
As experiências desenvolvidas pela Rede de Mulheres dentro da economia solidária tem demonstrado na prática que é possível sim, construir outro modelo econômico, viável, sustentável e com responsabilidade ambiental e social, possibilitando a construção de meios de produção sustentáveis, capaz de colocar comida de verdade na mesa das pessoas, instigando a consciência sócio econômica de que nosso “remédio é o nosso alimento”, provocando em nós uma reflexão sobre nosso consumo compreendendo que ele é “um ato político” e que diz muito sobre cada um de nós.
O consumismo tem nos escravizado atualmente e tem transformado praticamente tudo em descartáveis, destruindo o meio ambiente e principalmente as relações humanas. É urgente que repensemos sobre nosso consumo, não achar que os recursos naturais são infinitos.
Para isso precisamos que as políticas públicas, sobretudo, as de educação, favoreçam a construção de outras consciências cidadãs, incentivando a reflexão sobre práticas que favoreçam a harmonia entre o ser humano e a natureza. Que, sobretudo, aprendamos que a existência humana depende da existência dos recursos naturais.
*Ana Cristina Nobre dos Santos, educadora social da Rede de Mulheres, feminista, com formação em História e militante do movimentos feminista e agroecológico.
Fonte: Ecoa Uol