Pesquisa divulgada nesta quarta é a primeira a medir reação de grávidas. Casos ocorrem em outros países onde aborto é limitado ou proibido.
Temendo os efeitos do vírus da zika em seus fetos, gestantes da América Latina procuram cada vez mais pílulas abortivas disponibilizadas na internet, encontradas em uma agência de assistência sem fins lucrativos, de acordo com novo estudo. No Brasil, a procura aumentou em 50% entre novembro de 2015 e março de 2016.
A pesquisa, publicada nesta quarta-feira (22) no periódico científico “The New England Journal of Medicine”, é a primeira a medir a reação das mulheres grávidas aos alertas do vírus da zika, em nações onde o aborto é limitado ou proibido. Detectado pela primeira vez no Brasil no ano passado, o surto atual é ligado a mais de 1.600 casos de microcefalia, uma malformação craniana.
No país, o aborto é ilegal exceto em casos de estupro, quando a vida da mãe corre perigo ou a criança se encontra doente demais para sobreviver. Os pedidos pelas pílulas aumentaram, também, em outros locais da América Latina: 35,6% em El Salvador; 36,1% na Costa Rica; 38,7% na Colômbia; 75,7% em Honduras; 93,3% na Venezuela e 107,7% no Equador.
No momento em que o zika se dissemina pela América Latina, vários países, como El Salvador, vêm aconselhando as mulheres a evitar uma gravidez, mesmo que o acesso a métodos contraceptivos ou ao aborto seja restrito. Recentemente, a Organização Mundial daSaúde (OMS) também advertiu casais que moram em áreas com transmissão do vírus a cogitarem adiar gestações.
“Quando você emite esse tipo de conselho, mas não os relaciona com caminhos para cuidados seguros e legais, cria uma situação realmente difícil para as mulheres”, disse a doutora Abigail Aiken, co-autora do estudo e especialista em saúde reprodutiva da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Abigail e seus colegas analisaram solicitações de aborto do Women on Web, uma organização sem fins lucrativos que proporciona acesso a medicamentos abortivos, além de consultas online para mulheres de países onde o aborto legal é limitado. O grupo oferece as pílulas nas 10 primeiras semanas de gravidez para induzir abortos.
Os pesquisadores compararam os pedidos de aborto feitos depois de 17 de novembro de 2015, quando a região foi alertada sobre o risco em potencial de defeitos de nascença decorrentes do zika, com pedidos já esperados deste mesmo grupo baseados em cinco anos de dados anteriores.
Eles descobriram aumentos estatisticamente significativos de solicitações de aborto em sete de oito países onde o vírus da zika está circulando, o aborto é restrito e onde o país havia alertado sobre os riscos da infecção na gestação.
A Jamaica, onde as mulheres foram aconselhadas a evitar a gravidez antes mesmo de a transmissão ter sido confirmada, foi o único país deste grupo onde não se testemunhou um aumento grande nas solicitações.
Fonte: Bem Estar