Uma nova pesquisa ilumina um preconceito de gênero enraizado nos professores do ensino fundamental: o “talento natural” dos meninos para as áreas de Ciências Exatas.
Um dos estereótipos sobre meninas é a ideia de que seriam naturalmente menos capazes em Matemática. Os campos das Ciências Exatas, como Engenharia e Informática, têm o problema crônico de empregar poucas mulheres – no Google, por exemplo, menos de 20% dos funcionários técnicos são do sexo feminino. A justificativa das empresas é a pouca quantidade de mulheres formadas nestas áreas.
Pensando sobre a origem dessa ausência feminina nas áreas de exatas, pesquisadores da Universidade de Tel Aviv conduziram um experimento com três grupos de alunos, da 6ª série até o final da escolaridade. Cada aluno fez duas provas idênticas sobre uma série de matérias, e as provas foram corrigidas por 2 grupos de professores: um que sabia os nomes dos alunos (e, portanto, era capaz de deduzir o sexo deles) e um que corrigiu provas anônimas.
Enquanto as respostas dos alunos eram idênticas, as correções foram desiguais. O grupo de professores que sabia os nomes deu notas maiores aos meninos; a correção anônima, ao contrário, deu notas maiores para as meninas. Esse efeito, porém, só ocorreu com as provas de Matemática e Ciências – as avaliações de Inglês, por exemplo, tiveram correções parecidas.
A conclusão dos pesquisadores foi que, em Matemática e Ciências, os professores superestimaram as capacidades dos meninos e subestimaram as das meninas, e que isso produz um efeito duradouro. Quando estes grupos de alunos observados estavam próximo à formatura, poucas meninas demonstraram interesse pelas áreas de Ciências Exatas.
É claro que a escola não é o único fator definidor nas escolhas das crianças. Todo o seu contexto social – sua família, sua cidade, seu país, sua classe econômica – influencia o momento de decisão de carreira. Apesar de não ser, portanto, o único elemento de influência, não deixa de ser muito importante.
Quando as crianças entram na escola, elas têm uma preocupação em ser reconhecidas pelos adultos. O professor é uma autoridade e um modelo respeitado e as suas opiniões marcam o percurso escolar da criança. Há crianças que avançam de forma significativa, ainda que com muitas dificuldades, porque, com a ajuda do professor, passam a acreditar que podem dar conta, que podem conseguir e se esforçam nesse sentido, também para que receba seu reconhecimento.
Os preconceitos mais difíceis de desconstruir são aqueles que não enxergamos. Um dos resultados desta ideia de que meninos são mais talentosos em Matemática é que meninas se distanciam da área de Exatas, o que afeta suas decisões de carreira. Considerando que as áreas que citamos anteriormente – Engenharia e Informática – estão entre as mais bem pagas, em última instância, esse preconceito que se faz sentir no Ensino fundamental é também um dos responsáveis pela desigualdade financeira entre homens e mulheres.
Imagine este momento na vida da criança: ingressar no Ensino Fundamental é um marco de crescimento, é o início da vida escolar. Nesta etapa, tão crucial para o desenvolvimento da criança, os estímulos – positivos e negativos – que recebem dos professores podem deixar marcas duradouras. Como uma bola de neve, a falta de incentivo é internalizada pelas crianças, que vestem as carapuças que os professores e a sociedade as atribuem.
Nosso nome, lema e causa pela qual lutamos é a ideia de que toda criança pode aprender, quando dada as oportunidades para tal. Diante dos resultados desta pesquisa, podemos pensar no que aprende a menina que, apesar de responder provas parecidas com seus colegas meninos, consistentemente recebe notas menores e poucos elogios. E vice-versa, o que aprende o menino que se esforça tanto quanto suas colegas, mas recebe maiores notas e incentivos que elas?
Ao apontar a existência deste preconceito, a pesquisa possibilita uma mudança de comportamento. Meninos e meninas têm a mesma capacidade para a Matemática, e o papel da escola é incentivar ambos ao invés de limitar metade da sociedade com base em um estereótipo.
FONTE: Brasil Post