A bancada feminina no Senado, que teve uma redução de 15 para 13 parlamentares na nova legislatura, lamenta a ausência da senadora bolsonarista Damares Alves nas demandas das mulheres.
“Damares sabe onde está pisando. Assim eu espero porque aqui não é o povo na rua. Não é a bolha deles. Então, espero que ela tenha essa consciência suprapartidária” , disse a senadora Soraya Thronicke, que foi candidata à presidência da República em 2022 e recebeu 600.955 votos.
A parlamentar lamenta a diminuição de mulheres na bancada. “É muito triste para a gente porque, quando pensamos que ia aumentar, a nossa bancada foi diminuída. Aí, por exemplo, nomes importantes da bancada federal como Simone Tebet, a Rose de Freitas, Kátia Abreu… estamos perdendo agora”.
Ela garante que, apesar do revés, a bancada feminina vai continuar atuante porque conquistou uma cadeira fixa no “Colégio de Líderes”. “Isso garante a participação feminina na definição dos projetos que serão votados no Senado”.
Além da saída de nomes femininos importantes, foi eleita para o senado Damares Alves ex-ministra da Mulher do governo Bolsonaro, conhecida por falas ideológicas da extrema-direta e carregadas de machismos.
“Não acredito que ela afetará, pois bancada é democrática, engloba todas as parlamentares de forma absolutamente democrática. Os projetos que defendemos sempre estarão acima de interesse ou manifestações individuais”, disse a senadora Zenaide Maia.
Soraya Thronicke garante que Damares será bem-vinda. “Eu não sei como vai ser a reação dela, mas até hoje aqui no Senado a gente conseguiu trabalhar de forma suprapartidária, independente de ideologia, com respeito. Ela sabe onde está pisando, assim eu espero, porque aqui não é o povo na rua, não é a bolha deles”.
Ela espera que Damares tenha essa consciência suprapartidária, até porque estamos aqui por algo além de nós mesmas, de qualquer partido.
A senadora Soraya Thronicke, ao ser questionada sobre o ingresso da colega de estado Tereza Cristina (PROS / MS) diante do fato dela ter composto o corpo de ministros do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a senadora afirma que acredita que o dialogo com Tereza Cristina será mais fácil, por a ver como uma política menos extremista e experiente.
Os desafios das mulheres na política ilustram o desafio diário da existência feminina em um país machista, diante disso a cientista política (UnB) Noemi Araújo Lopes, coidealizadora da representativa.
“Mesmo sendo uma senadora eleita democraticamente, você não é indicada pelo seu partido a poder participar de comissões, a ser membro titular ou suplente você não tem espaço de fala, você não tem a possibilidade de voto. Então quando você tem a constituição dessa desse bloco como uma liderança, é permitida essa participação”.
Foi por meio da criação da Bancada Feminina que as mulheres tiveram mais voz para combater a misoginia de dentro do poder, principalmente em um governo abertamente misógino.
Com a subrepresentação de mulheres em posição de poder, a existência de um bloco feminino e unido, em posição de poder, tal qual a Bancada Feminina no Senado Federal, realiza um papel importante no combate ao machismo estrutural brasileiro.
Fortalecimento
A Senadora Eliziane Gama (CIDADANIA/MA) comenta que, quando propôs a criação da Bancada Feminina, através do PRS 6/2021, tinha o objetivo de fortalecer e avançar no protagonismo das mulheres na Casa.
“Conseguimos avançar muito porque desde então as pautas que nos interessam não estão restritas ao mês de março e têm sido apreciadas ao longo do ano inteiro.
A união de forças da bancada feminina do Senado, da Procuradoria da Mulher do Senado e da Secretaria da Mulher da Câmara deu resultados muito positivos”.
Mudança de pensamento
A Bancada Feminina no Senado foi criada em março de 2021, com o intuito de frear as governanças machistas que vigoram no Brasil desde sua origem, como diz a cientista política Noemi Araújo.
“Só mulheres conseguem entender as dores de outras mulheres, não tem como a gente elaborar e implementar políticas públicas em favor de mulheres se não tiverem as mulheres ali sentadas à mesa discutindo e pensando por elas. Homens brancos mais velhos e ricos não vão conseguir pensar por mulheres negras periféricas”.
Por meio do Projeto de Resolução a bancada feminina foi criada, desfrutando das prerrogativas de líderes de partidos ou bloco parlamentar, ou seja, direito de fala e assento no colégio de líderes.
Com a aprovação desse projeto, as senadoras ingressaram na CPI da Covid de forma forçosa, uma vez que todos os membros titulares da comissão eram homens, desempenhando com muito fervor a oposição ao governo e as atitudes que geraram 689 mil mortes no Brasil.
As Senadoras tiveram uma atuação muito ferrenha na CPI, sendo uma verdadeira pedra no sapato de todos os homens que ali estavam, principalmente os da antiga base governista.
“Para irritar”
A senadora Soraya Thronicke (PSL/MS) disse que “Omar Aziz (PSD/AM) toda vez que saia da cadeira da presidência, colocava uma mulher, não por amor as mulheres ou respeito, mas para irritar os outros, principalmente a bancada governista”.
As Senadoras Eliziane Gama, Simone Tebet (MDB/ MS) e a Soraya Thronicke foram as mais incisivas em suas falas na CPI, batendo de frente com diversos homens ali presentes, causando um desconforto palpável a quem se apoia no machismo para ter força.
Ao longo da CPI as Senadoras foram ofendidas em sua honra, como o episódio em que o o Ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário chama a ministra do Planejamento, na época senadora, Simone Tebet (MDB/ MS) de “descontrolada”, por defender o seu ponto, assim como diversos ataques vindos dos Senadores governistas Flávio Bolsonaro (PL/RJ) e Marcos Rogério (PL/RO), rebatidos imediatamente pelas Senadoras, mostrando ao Brasil, principalmente as mulheres, como é importante ter figuras femininas em posições de poder para as defender.
A senadora Soraya Thronicke, em entrevista, disse que é importante falar sobre os ataques que as mulheres sofreram não só dentro da CPI, mas, também, nas redes sociais, ela afirma que foram muito mais ferrenhos que os sofridos por homens, disse ainda que fizeram até “memes” dela e da ministra Simone Tebet em camisa de força, mais um vez ligando a voz feminina à loucura e a histeria.
A forte atuação das Senadoras na CPI da Covid, como dito pela Senadora Eliziane Gama “mudou os rumos da CPI e deu luz a questões importantes e aos obstáculos que as mulheres enfrentam na política e na sociedade”.
Além de dar luz aos desafios, a atuação permitiu que as mulheres driblassem a falta de visibilidade no cenário nacional, projetando Simone Tebet e Soraya Thronicke. Ambas concorreram à presidência da república, sendo que Tebet terminou em terceiro lugar e teve grande participação na eleição do presidente-eleito Lula (PT).
As senadoras já haviam sido uma dor de cabeça aos governista na CPI da Covid, porém as realizações da Bancada Feminina no Senado, mais uma vez, impediram um avanço elitista e misógino do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), derrubando o veto do PL (4.968/2019) à lei de criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual lei 14.214, de 2021, por meio da relatoria da Senadora Zenaide Maia. A derrubada do veto garantirá a distribuição de absorventes pelo SUS para mulheres de baixa renda, configurando mais uma vitória feminina e ressaltando a importância de mulheres na política.