Nas eleições municipais de 2016, as mulheres ainda representam apenas 31% do total de candidatos
Nesta sexta-feira (23), foi lançada a plataforma cidade5050.org.br, em que candidatas e candidatos podem assumir publicamente o compromisso com os direitos das mulheres. A proposta é promover a igualdade entre homens e mulheres nos espaços de poder. Resulta de uma parceria entre ONU Mulheres Brasil, Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Instituto Patrícia Galvão e Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades da Universidade de Brasília (Demodê/UnB). Políticos sem compromisso real com essa causa e que pensem em abraçá-la apenas por modismo deveriam pensar duas vezes. “Logo nos primeiros seis meses do ano que vem, vamos monitorar o trabalho dos eleitos que tenham assumido a agenda da cidade 50-50”, afirma Jacira Melo, diretora executiva do Patrícia Galvão. “E vamos incentivar que os movimentos sociais, especialmente de mulheres, acompanhem isso nas suas cidades.”
Alzira Soriano foi a primeira prefeita eleita na América Latina, pelo Partido Republicano em 1929, na prefeitura de Lajes, no Rio Grande do Norte. Naquela época, as mulheres nem sequer tinham o direito de votar. Em 2016, mais de 144 milhões de eleitores brasileiros vão às urnas em outubro e 52% deles são mulheres. A implementação da lei de cotas, que obriga partidos a preencher um espaço mínimo de 30% de candidaturas para cada sexo, foi em 1997. No entanto, a participação política ainda está longe de chegar à paridade entre homens e mulheres. De acordo com as Estatísticas Eleitorais de 2016, divulgadas pelo TSE, 158.445 mulheres se candidataram nestas eleições. Isso representa 31,9% do total de candidatos, pouco acima da cota, mas ainda menos de um terço do total. O recorte de raça mostra que a quantidade de mulheres negras é ainda menor. Apenas 13.382 candidatas se declaram negras, enquanto 84.316 se declaram brancas.
Nas eleições municipais de 2012, as mulheres na disputa pelas prefeituras representaram apenas 13% dos candidatos. Eram 2.026 mulheres no páreo. A participação já pequena encolheu um pouco mais entre os que saíram com vitória das urnas – elas responderam por 12% das vitórias ou 665 prefeitas eleitas nas 5.565 cidades em que houve eleições. As vereadores foram 31% dos candidatos, mas só 12% entre os eleitos. O número subiu, mas pouco.
Em 2016, 2.149 mulheres tentam ocupar as prefeituras. O número de candidatas a vereadoras cresceu 14% em relação às eleições anteriores e foi para 153.308.
Na ferramenta cidade5050.org, os candidatos podem aderir e os eleitores podem pesquisar quais vereadores e prefeitos aderiram. Podem também filtrar de acordo com a cidade. A ideia do Planeta 50-50 foi adaptada aos compromissos globais da Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, para que os candidatos possam adaptar seus projetos na perspectiva de gênero nas áreas de fortalecimento econômico, participação política, educação inclusiva, enfrentamento da violência contra a mulher, saúde, governança e financiamento. “Hoje foram disparados 16 mil e-mails para todos os candidatos e candidatas às prefeituras do país. Na segunda-feira, pretendemos contatar mais 500 mil candidatos a vereador. A ideia é que o candidato assuma a agenda como um todo”, afirma Jacira.
Nas maiores capitais, as candidatas ganharam alguma força durante a corrida eleitoral, em comparação com o pleito anterior. Em 2012, em São Paulo, Soninha (PPS) chegou a ter 5% das intenções de voto no primeiro turno. Ana Luiza (PSTU) e Anaí Caproni (PCO) não somavam mais do que 1%. Em 2016, Erundina (PSOL) chega a 7% das intenções de voto e Marta (PMDB) a 21%, com chance de chegar ao segundo turno. No Rio de Janeiro, em 2012, a única candidata foi Aspásia (PV), que teve 2% dos votos. Neste ano, Jandira Feghali(PCdoB) tem 8%. Em Fortaleza, sem candidatas mulheres em 2012, Luizianne (PT) tem 18% da intenção de voto nas eleições de 2016. Em Belo Horizonte, o cenário se tornou menos diverso. Maria da Consolação (PSOL) e Vanessa Portugal (PSTU), candidatas em 2012 e que juntas somaram 5% dos votos, seguem na disputa das eleições de 2016. Atualmente, a intenção de voto nas duas caiu para 3%.
Fonte: Época