Segundo a professora de Harvard Naisha Bradley, há estratégias que podem ajudar mulheres a diminuir a diferença dos homens
or que as mulheres ainda são minoria na alta cúpula das empresas? E por que, quando chegam lá, ainda recebem menos do que os homens? Essas foram as questões que Naisha Bradley, diretora do Centro da Mulher de Harvard, vem estudando há anos. Em palestra durante o Power Trip Summit, promovido pela revista Marie Claire Brasil, ela discorreu sobre o problema e citou algumas estratégias que as mulheres podem usar para conseguirem alcançar o sucesso no mercado de trabalho.
Em primeiro lugar, Naisha afirmou que é preciso olhar para sucesso e poder de uma forma diferente do que se vê hoje. “As pessoas pensam no poder como se fosse uma torta – você pega um pedaço e sobra menos torta para as outras pessoas”, brincou. “Eu não acredito nisso, penso mais em um sistema de constelação, eu posso brilhar ao mesmo tempo em que dou espaço e ajudo outras pessoas a brilhar também”, disse.
O que impede o avanço das mulheres?
Há uma diferença importante, segundo a professora de Harvard, no modo como as mulheres se mostram no mercado de trabalho. “Os homens pensam que podem fazer tudo, mas as mulheres têm dúvidas mesmo quando têm a qualificação necessária”, comentou.
Outro ponto que dificulta a inserção das mulheres em papeis de liderança é a imagem que se tem de um líder. “À liderança são ligadas características masculinas, o líder é assertivo, dominante, duro”, diz Naisha. E quando uma mulher apresenta essa características, é taxada como “masculinizada” e as pessoas não têm afinidade com essa chefe.
A falta de empregos com flexibilidade de horário é outro problema, defende Naisha. E isso não é bom apenas para as mulheres. Criar vagas com horários flexíveis, diz ela, reduz o absenteísmo e permite que os profissionais gerenciem suas carreiras e prioridades pessoais. “Não é só para quem tem filhos, mas talvez para alguém que tenha pais mais velhos que precisam de cuidados, ou que querem cuidar de animais de estimação”, diz.
Por fim, a falta de modelos femininos em cargos de liderança. Um estudo citado por Naisha mostrou que dois terços das mulheres sentem que a falta de modelo é um obstáculo para o avanço na carreira profissional.
O que fazer?
Planeje sua carreira e crie sua marca pessoal, defende Naisha Bradley. Em primeiro lugar, ela diz que as mulheres precisam se planejar para alcançarem o que querem – algo que os homens costumam fazer, mas as mulheres ainda não. Nesse quesito, é preciso ser responsável pelo seu próprio desenvolvimento profissional. “Identifique oportunidades, encontre formas de crescer em seu emprego e seja estratégica, crie oportunidades fora de seu emprego”, explica. Em segundo lugar, ela diz que é preciso criar uma marca pessoal, aquilo que você mostra como profissional, o que inclui o trabalho, a apresentação e a atitude.
Depois disso, é crucial trabalhar no networking. E, para se destacar, é importante contar com mentores e patrocinadores, como ela explicou. “Os seus mentores precisam ser diversos e terem um relacionamento pessoal com você, já os patrocinadores não te conhecem pessoalmente, mas sim a sua marca e decidem apostar em você com base na sua marca”, explicou. As mulheres, segundo ela, costumam ter muitos mentores, mas poucos patrocinadores – o contrário do que ocorre entre os homens.
Para comunicar sua marca pessoal, contudo, é preciso ter confiança, ou pelo menos fingir que tem. “A falta de confiança pode acabar com qualquer vantagem que você tem”, diz Naisha. “Saiba seu valor e comunique o que você faz com o peso que merece”. Isso significa, por exemplo, dar detalhes sobre o seu trabalho e suas responsabilidades, em vez de dizer apenas que você é “responsável pela logística de eventos”. Fale sobre a concepção, organização, divulgação e avaliação de experiências de marcas diversas.
O que as empresas precisam fazer?
As empresas, claro, têm um papel importante em criar oportunidades para que as mulheres se desenvolvam em suas carreiras. Nesse sentido, lembra Naisha, é essencial buscar mulheres nos processos seletivos. “Se há uma vaga de marketing e há cinco homens, é preciso voltar ao começo”, disse. “Há alguma mulher que merece estar no processo, nem estou falando que você precisa contratar”.
E as mulheres que conseguem postos de liderança também podem contribuir. Foi para elas que Naisha deixou seu apelo: “Crie oportunidade para outras mulheres e para que elas cresçam com você, os homens fazem isso todos os dias”.
Por fim, as empresas têm o dever de celebrar as mulheres que estão presentes, para criar e divulgar modelos para que outras mulheres possam ver as oportunidades.
Fonte: Época