Em dez anos –de 2004 a 2014–, o número de nascimentos de gêmeos no Brasil aumentou 28,5%, segundo dados da Pesquisa de Registro Civil do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entretanto, o número de trigêmeos e demais múltiplos caiu 7% no mesmo período.
Para Daniel Suslik Zylbersztejn, médico do Setor Integrado de Reprodução Humana do Hospital Universitário da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o dado é consequência da evolução das técnicas de reprodução assistida.
“Hoje, temos medicamentos avançados para estimulação ovariana e estufas mais adequadas para o crescimento dos embriões, o que permite que eles cheguem a estado de maior amadurecimento para transferência, o chamado blastocisto.”
De acordo com o médico, ao usar o bastocisto, a chance de gravidez é maior. “Normalmente, trabalhamos com a transferência de dois embriões, o que aumenta a probabilidade de nascerem gêmeos.”
Segundo o especialista, a taxa de gravidez gemelar no Brasil por tratamentos de FIV (fertilização in vitro) é estimada em 25%, cerca de um quarto dos nascimentos totais em mulheres até 35 anos. “Com o avançar da idade, essa prevalência cai gradativamente, chegando a menos de 10% em mulheres com mais de 40 anos.”
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina de 2010 limitou o número de embriões que as pacientes podem receber em cada tentativa, conforme a idade. Para mulheres até 35 anos, podem ser transferidos, no máximo, dois embriões; de 36 a 39 anos, o limite são três e, acima de 40, quatro.
“Graças a essa medida, minimizamos a prevalência de gestações múltiplas. Quando os embriões são de qualidade, transferimos um só, no máximo, dois, a não ser em casos em que a mulher já fez muitos tratamentos e não engravidou”, afirma Mario Cavagna Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
De acordo com o médico, há mais risco de ocorrer uma gravidez múltipla quando a mulher usa indutores de ovulação para buscar uma concepção natural. “Esse é o pior cenário e não a fertilização in vitro. As gestações múltiplas são consideradas de risco, tanto para a mulher quanto para o bebê. Elas são responsáveis por 20% dos casos de prematuridade.”
Gravidez tardia
A maior procura pela reprodução assistida se deve ao fato de as mulheres estarem engravidando mais tarde. “Aprendemos na faculdade de medicina que, do ponto de vista biológico, a melhor idade para ser mãe é entre 18 e 24 anos. Porém, essa é a fase de estudar e de investir na carreira. Quando a mulher tenta engravidar, muitas vezes, não consegue mais naturalmente”, fala Cavagna.
A média de idade em que as pacientes mais buscam a reprodução assistida nos hospitais públicos é 36 anos, afirma o médico, que também é diretor da Gerência de Reprodução Humana no Hospital Pérola Byington, em São Paulo, um dos poucos a oferecer o tratamento gratuito no Brasil. “Existe uma grande demanda reprimida. Fazemos 300 fertilizações por ano no hospital, mas, para atender toda a procura, teríamos de fazer dez vezes mais.”
É bom lembrar que tratamentos para engravidar não são cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O custo é elevado, variando de R$ 5.000 a R$ 20 mil.
Nascimentos naturais de gêmeos
Embora mais raros, os nascimentos naturais de gêmeos também acontecem por fatores diversos, entre os quais, histórico familiar, presença de algum problema que cause alterações na ovulação, como síndrome do ovário policístico, obesidade e idade acima de 37 anos.
“Quando a mulher entra em uma fase mais avançada, o nível de FSH (hormônio folículo-estimulante), que regula a ovulação, aumenta fisiologicamente, podendo haver a liberação de mais de um óvulo no mesmo ciclo”, declara Zylbersztejn.
Fonte: Mulher Uol