Em contrapartida, pessoas negras e mulheres representam mais da metade da população. Foram mapeadas 572 pessoas nas secretarias estaduais
Mesmo sendo mais da metade da população, pessoas negras representam apenas 10,5% e mulheres 29,7%, dos cargos de secretário(a) nos governos estaduais. Quando se é mulher negra e parda, o número chega a apenas 4% delas nesses cargos. Os dados são da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que fez uma pesquisa contratada pela Fundação Lemann.
Cerca de 81,7% das pessoas negras do país nesses cargos do secretariado são provenientes das regiões Norte e Nordeste, que possuem taxas acima da média nacional. O Nordeste também registra uma média de mulheres acima da média nacional.
Veja o recorte de pessoas negras em cargos do secretariado estadual, por região:
- Média nacional: 10,5%;
- Norte: 13,7%;
- Nordeste: 13,5%;
- Centro-Oeste: 4,6%;
- Sudeste: 7,4%; e
- Sul: 3,1%.
Já no caso das mulheres, a média nacional é de 29,7%, e o Nordeste é a única região que fica acima dessa taxa, com 37,2% de representatividade no setor do secretariado. As regiões que menos registram, nesse caso, continuam sendo Sul e Sudeste.
Veja o recorte de mulheres em cargos do secretariado estadual, por região:
- Média nacional: 29,7%;
- Norte: 27,4%;
- Nordeste: 37,2%;
- Centro-Oeste: 26,2%;
- Sudeste: 21%;
- Sul: 24,6%;
“Até fazermos esse mapeamento, não tínhamos visibilidade no Brasil sobre o perfil étnico-racial das lideranças que comandam as secretarias estaduais e que estão à frente de políticas públicas e serviços relevantes para a população brasileira. Em um país diverso como o Brasil, com mais da metade da população composta por mulheres e pessoas negras, os dados do estudo do GEMAA preocupam”, ressalta o diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann, Daniel de Bonis.
Foram mapeados 572 secretários no país para a realização da pesquisa. Os dados foram revelados pela pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (GEMAA/UERJ) a pedido da Fundação Lemann e Imaginable Futures.
Um recorte da diversidade no mercado de trabalho
Em busca de um mundo mais justo no que diz respeito a seleção de profissionais, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) lançou uma ferramenta que permite que as empresas (e cidadãos) consigam verificar, gratuitamente, o “índice de diversidade” entre seus colaboradores. A plataforma, chamada Radar, traz dados nacionais (do IBGE e Ministério do Trabalho e Emprego) com um recorte por raça, de gênero, etária, por escolaridade, renda, entre outros.
“Quando um CEO de uma empresa olha para esses números e entende que estão em um quadro totalmente desconectado [da realidade], esse CEO vai pensar que tem um quadro só de pessoas brancas naquele estado onde ele está, com 78% de pessoas negras”, explica o diretor de Diagnóstico e Indicadores do Ceert, Mário Rogério.
A pesquisa na plataforma ainda pode revelar dados sobre a força trabalhista, em uma tabela que apresenta o índice de pessoas ocupadas e desocupadas, rendimentos, desalentados, pessoas subutilizadas, pessoas empregadas no setor econômico formal, dentre outros. Por exemplo, os dados do portal demonstram que, dos 214 milhões de brasileiros, apenas 13,1% possuem ensino superior completo.
O diretor da Ceert, Mário Rogério, ainda destaca que o medo pela busca da representatividade e equidade nas relações trabalhistas não tem fundamentação, já que “ações afirmativas não duram para sempre”. “[Mas] É impossível dizer que não precisa de uma ação afirmativa”, completa.
“Dizia-se que negros não eram bons para ocupar esses lugares [de trabalho] porque não eram bons, pois bem, eles foram para as melhores universidades… Não existe mais como manter esse argumento”, ressalta. “O mercado vai rejeitando uma série de pessoas. A população negra é a maioria. Como um país pode colocar essa porcentagem de fora do mercado de trabalho?”, questiona.
A critério de comparação, segundo dados do Radar, a proporção de homens brancos em posições de liderança no mercado de trabalho é 164,9% superior às mulheres negras.