Na cidade e no campo, elas desvendaram maneiras de mudar o mundo na prática
Mulheres à frente de uma alimentação mais saudável. Empresárias no comando de negócios inovadores ou líderes na luta por direitos para todas as pessoas. Essas são algumas histórias das finalistas do 1º Prêmio Ecoa. A celebração premia iniciativas, pessoas e empresas que desenvolvem ideias e ações para mudar o mundo. Quando se trata de mulheres, as criações não param de alterar a forma como vivemos de maneira positiva e coletiva. E não podem parar.
Em São Paulo, por exemplo, tia e sobrinha criaram uma calcinha absorvente mais confortável, sustentável e reutilizável. A invenção diminui o descarte de absorventes na natureza, é boa para o planeta e propõe um debate importante sobre autonomia sobre o corpo. Hoje, a Pantys é uma empresa com lojas e funcionários e se tornou referência num país onde impera a pobreza menstrual.
“Depois que as consumidoras usam a primeira vez, é como se a relação delas com seu ciclo menstrual fosse transformada”, diz a empresária Emily Ewell, uma das criadoras da marca Pantys, finalista do Prêmio Ecoa na categoria Empresas que Mudam, ao lado de Conta Black e Marulho. “Isso é um jeito de empoderar também”. Elas não estão sozinhas. A busca para fortalecer mulheres se estende pelo Brasil com soluções capazes de construir um presente e futuro melhores.
A maior parte dos brasileiros é mulher. Elas são 52,2% da população, ou 109,4 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE. Apesar disso, são minoria na política. Em Brasília, são representadas por apenas 77 entre 513 deputados federais e são apenas 12 entre os 81 senadores. A política é uma amostra da exclusão feminina nas grandes tomadas de decisão, mas elas continuam obrigadas a movimentar outras engrenagens do país. Em 2019, 45% das casas tinham uma chefe de família. A pandemia criou novos problemas e intensificou os existentes.
“Muitas chefes de família tiveram sobrecarga durante a pandemia, desempregadas ou empregadas e com filhos para criar. Mesmo assim, é muito importante notar nossa capacidade de resistência e escuta”, diz Carmen da Silva, finalista na categoria Causadores do Prêmio Ecoa. A líder do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro) luta por moradia digna para mais de 120 famílias na região central de São Paulo. E vai além.
Carmen regulariza os documentos de famílias para incluí-las em programas habitacionais. Enquanto isso, ela dá lar. Mais de 120 famílias vivem na Ocupação Nove de Julho, no centro de São Paulo, a mais famosa entre as ocupações coordenadas por Carmen. Segundo ela, foi muito procurada por mães na pandemia em busca de acolhimento para seguir em frente.
A união se estende além dos grandes centros urbanos. Em 11 cidades de Pernambuco, agricultoras criaram um grupo de agricultura saudável e boa para o meio ambiente. Há cerca de 15 anos, o então coletivo formado só por mulheres virou uma associação chamada Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. Por meio da agroecologia, as “feministas do Sertão” geram renda para chefes de famílias e são finalistas na categoria Iniciativas que Inspiram do Prêmio Ecoa.
Se a associação começou para garantir mais participação das mulheres no campo, com o tempo virou uma grande e articulada rede de apoio social, emocional e financeiro para mais de 200 agricultoras. Muitas começaram a cultivar no próprio quintal de casa. Hoje, passam por um curso de gestão financeira e capacitação agrícola para gerar renda.
Assim, a rede promove a alimentação das próprias famílias, que partilham com vizinhos e, por último, vendem. Há também vendas feitas para a merenda escolar e para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e vão parar em cestas básicas doadas para quem tem fome. É tudo orgânico, sem uso de agrotóxicos.
“Durante a pandemia, conseguimos apoio de um fundo internacional para promover palestras sobre saúde mental só para as mulheres que enfrentam o período da pandemia”, diz a educadora Ana Cristina Nobre, integrante da rede.
Graças a uma mulher conhecida como Lia Esperança, um bairro periférico e acinzentado de São Paulo mudou de cor. Nascida em Itaberaba, na Bahia, Maria de Lourdes Andrade de Souza criou uma vida mais sustentável na Vila Nova Esperança, zona oeste de São Paulo.
Em 2003, Lia começou a implementar uma horta orgânica em um terreno então usado para descarte ilegal de lixo. A plantação foi crescendo e gerou alimento e educação ambiental para os moradores. Foi o primeiro passo. A ideia dela era criar um bairro autossuficiente.
A companhia de eletricidade doou um terreno só para a horta, que cresceu ainda mais. Logo depois, Lia criou uma fossa ecológica para evitar a contaminação do solo e criou uma cisterna para coletar água da chuva. O próximo passo é a construção de uma biblioteca, uma quadra de esportes e uma creche.
Os projetos são financiados por pessoas e instituições que admiram o trabalho de Lia, presidente da Associação Independente Vila Nova Esperança. “Se você sabe de algo legal, passa para o teu vizinho”, diz Lia, que é uma das finalistas na categoria Causadores do Prêmio Ecoa.
“Aprendi que o líder não manda fazer, ele faz e chama as pessoas para seguir. Eu chego na associação e digo: ‘Pessoal, vamos junto botar a mão na massa?’. É assim que a gente trabalha na vila.”
A potência de projetos encabeçados por mulheres é nítida nesta primeira edição do Prêmio Ecoa. Cada uma das finalistas que você conheceu até aqui, foi escolhida pela capacidade de inspirar mudanças sociais, ambientais e impulsionar um olhar propositivo. Enfim, para criar e estimular novas narrativas.
Em uma realidade que grita por um futuro mais sustentável, foram elas que botaram ideias em prática para traçar o caminho, cada uma em seu espaço e vivência particulares.
“A gente está muito feliz de, depois de tanta caminhada, chegar até aqui”, diz a educadora Ana, da rede de mulheres em Pernambuco. Os desafios, claro, não param. “Eu espero que a gente não se afaste do impacto positivo que conseguimos ao conseguirmos nos unir, enquanto sociedade, durante a pandemia”, acrescenta Carmen.
O Prêmio Ecoa será transmitido ao vivo no dia 2 de dezembro. As vencedoras serão escolhidas por um júri especializado e poderão participar de um workshop com estratégias para redes sociais, marketing digital e uma consultoria de SEO para melhorar o alcance online. Os homenageados também irão publicar textos de opinião em Ecoa e estimular muito mais gente a colocar a mão na massa por um mundo mais justo, ecológico e participativo.
Fonte: UOL