RIO — Após uma grande mobilização feminista nas redes sociais no ano passado, com os movimentos #primeiroassedio e #meuamigosecreto, os blocos organizados por mulheres prometem fazer muito barulho neste carnaval. Com charme e delicadeza, Mulheres de Chico, Bloco das Cacheadas, Mulheres Rodadas e Mulheres de Zeca querem mostrar o seu poder ao falar de coisa séria, mas sem perder o bom humor.
Em 2014, quando viu circulando nas redes sociais a fotomontagem de um homem segurando um cartaz com os dizeres “Eu não mereço mulher rodada”, Renata de Carvalho não pensou duas vezes: entrou no debate que logo tomou conta da internet. Da discussão, nasceu o bloco Mulheres Rodadas.
— Começamos como uma brincadeira. Aí minha amiga, Débora Thomé, achou a ideia sensacional e mandou levar adiante. Criei o evento no Facebook e ela me mandou uma foto de baianas rodando — conta Renata.
BAMBOLÊ CONTRA O MACHISMO
Segundo Renata, em 2015 o bloco levou 3 mil pessoas ao Largo do Machado para rodar saias e bambolês contra o machismo. Este ano, ela espera um público maior, pois o movimento feminista cresceu muito do ano passado para cá.
— A gente viu, muito intuitivamente, que sempre esteve ali a vontade de reagir. Acho que a gente influenciou na seguinte questão: ser feminista um tempo atrás era quase um palavrão, uma coisa chata, demodê. Não era algo alegre, positivo. Com a arte, a música e o humor peculiares do carnaval, a gente conseguiu chegar até as pessoas — avalia Renata.
O bloco, que este ano desfila no dia 10 de fevereiro, às 9h, no Largo do Machado, contou na estreia com presenças femininas importantes.
— Contamos com o apoio da ONU Mulheres e a adesão da Articulação de Mulheres Brasileiras (organização política feminista, antirracista, não partidária) e de outros coletivos. Nosso bloco também é uma coisa lúdica, a gente viu que conseguia falar com as pessoas de uma forma que uma militância tradicional não consegue — disse Renata.
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Quem também luta pelos direitos femininos dentro e fora do carnaval é o Bloco das Cacheadas, fundado por Zica Assis e Leila Velez, sócias e fundadoras do salão Beleza Natural, especializado em cachos. Elas desfilam contra a ditadura dos fios lisos e pelo direito de reinar com as madeixas crespas.
— Na década de 70, eu trabalhava como doméstica em casas de luxo e as patroas não queriam que eu ficasse com meu cabelo solto, no estilo black power. Uma delas me disse que, para entrar na casa dela, eu teria que cortar ou alisar. Não me conformei com isso. Não queria alisar. Daí, criamos o salão especializado e foi natural formar um bloco, pois carnaval tem tudo a ver com a nossa proposta — conta Zica.
O bloco, que sai no próximo dia 31 na Tijuca, às 10h, vai contar com a participação do bloco Mulheres de Chico e com o Mestre Nilo Sérgio, da Portela.
— Nossa bateria, comandada pelo Mestre Nilo Sérgio, é 100% formada por clientes e colaboradoras do salão. Elas agora têm um bloco para chamar de seu, onde são as protagonistas. Isso é muito legal! Vai ter muita alegria, crespas e cacheadas lindas, energia, animação e samba no pé.
Sem um discurso feminista, o bloco Mulheres de Chico, que completa 10 anos neste carnaval, presta homenagem a Chico Buarque, um dos compositores que mais compreendem a alma feminina.
BATERIA SÓ COM MULHERES
O bloco, que se apresenta no dia 13 de fevereiro, às 17h, na Praia do Leme, é pioneiro na proposta de ter uma bateria formada só por mulheres, e é um dos primeiros a entrar na onda de blocos temáticos.
— Somos o primeiro bloco feminino do Brasil. Um bloco rosa, que leva amor e alegria por onde passa, uma verdadeira família. Nunca tivemos a intenção de romper barreiras. Só de colocar nosso bloco na rua — conta Vivian Freitas, uma das fundadoras do bloco.
Ela conta que, por ser um bloco composto só por mulheres, vez ou outra escuta comentários machistas:
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— Sempre percebemos muita admiração das pessoas, mas é claro que, às vezes, ouvimos algo como “elas tocam como homens”.
O Mulheres de Chico inspirou o bloco Mulheres de Zeca, em homenagem a Zeca Pagodinho, que também tem bateria feminina e desfila no sábado de carnaval, às 17h, no Parque Madureira.
— Eu tinha um programa de rádio e estava entrevistando as meninas do Mulheres de Chico. Falei brincando que podíamos fazer o Mulheres de Zeca. Depois disso, choveu gente no Facebook dizendo para fazer mesmo, o povo ligou para a rádio dizendo que queria fazer parte. Daí criei o bloco — entrega a fundadora do grupo, Dorina Guimarães.
Fonte: O Globo