Nísia Trindade pede à população que se conscientize da importância das vacinas para impedir volta de doenças erradicadas
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta quinta-feira (15) que o Brasil tem “alto risco” de voltar a registrar casos de poliomielite, devido à queda na procura pela vacina contra a doença. A enfermidade — também conhecida como paralisia infantil — foi erradicada do país em 1989. O último caso foi registrado na cidade de Souza, na Paraíba. Em 1994, o Brasil e os demais países da América obtiveram o certificado de área livre do poliovírus selvagem pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). No entanto, segundo Nísia, a população infantil não tem sido imunizada adequadamente.
“Essa baixa das coberturas vacinais se agravou nos últimos quatro anos. Infelizmente, o Brasil passou a fazer parte da lista de países de alto risco para a reintrodução de doenças que estavam eliminadas do ponto de vista da circulação dos agentes e vírus que as causavam”, afirmou a ministra durante uma audiência no Senado pelo Dia Nacional da Imunização.
“O sarampo, infelizmente, voltou, e a pólio é uma doença considerada com alto risco de retorno. Precisamos reverter esse quadro com urgência. É uma ação consistente de vacinação. E uma ação desse tipo depende do governo federal, de estados e municípios, mas depende também da mobilização de toda a sociedade e de todos os entes políticos”, completou.
Vacina é vítima do próprio sucesso: outra questão que influencia na baixa adesão vacinal infantil é que o imunizante, de forma geral, se tornou vítima de seu próprio sucesso. O programa nacional de vacinação infantil levou à erradicação de muitas doenças, então as pessoas não estão mais acostumadas a ouvir sobre determinada doença e não têm interesse em tomar a vacina.
Nísia destacou que “é inaceitável” permitir o “retrocesso” e o retorno ao país de doenças graves. Segundo a ministra, “não existe programa de imunização bem-sucedido se não houver o ato de vacinar e a adesão dos gestores públicos e da sociedade”.
“Não podemos deixar nossas crianças e nossos jovens sem proteção. Queremos nossa população protegida em todo o seu ciclo de vida, com todas as vacinas para cada faixa etária. E temos uma responsabilidade fundamental com a proteção das nossas crianças e adolescentes. O direito à vacina e o direito à proteção à vida não podem ser negados.”
A sétima edição do ISI (International Symposium on Immunobiologicals), realizada em maio, também alertou para o alto risco de volta da poliomielite ao país. A presidente da Câmara Técnica de Poliomielite do Ministério da Saúde, Luiza Helena Falleiros, destacou o conjunto de fatores que levaram a esse cenário e disse que existe um risco evidente.
“Com o processo de imigração constante, as baixas coberturas vacinais, a continuidade do uso da vacina oral, o saneamento inadequado, os grupos antivacinas e a falta de vigilância ambiental, vamos ter o retorno da pólio, o que é uma tragédia anunciada”, afirmou.
Luiza Helena ressaltou que sempre se diz que as vacinas são vítima do próprio sucesso. “Hoje, ninguém mais viu um caso de pólio. Não se tem essa noção de risco enorme, mas ele existe. E não tem milagre nem segredo. Tem de vacinar,” afirmou a especialista.
A pesquisadora citou um estudo do Comitê Regional de Certificação de Erradicação da Polio 2022, da Opas, que aponta o Brasil como o segundo país das Américas com maior risco de volta da poliomielite, atrás apenas do Haiti.
Segundo o Ministério da Saúde, no ano passado a cobertura vacinal para a doença no Brasil ficou em 77,16%, muito abaixo da taxa de 95%, recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para impedir a circulação do vírus.