Na denúncia oferecida à Justiça, os promotores de SP também pediram que a influencer seja indenizada em R$ 100 mil por danos morais por suposta prática de violência obstétrica. Defesa do obstetra afirmou que não tomou conhecimento da denúncia e que “a lesão corporal foi descartada por laudo do IML”.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) denunciou nesta terça-feira (25) o médico obstetra Renato Kalil por lesão corporal leve e violência psicológica durante o parto da influencer Shantal Verdelho, em setembro de 2021.
Conforme o g1 publicou, a influencer havia revelado nas redes sociais que foi vítima de violência obstétrica pelo médico durante o parto da segunda filha, Domênica.
A denúncia desta sexta (25) foi oferecida pela Promotoria de Violência Doméstica do Foro Central da capital paulista, que acompanha o caso desde a abertura do inquérito policial e instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para ouvir outras vítimas do médico.
Quem assina a denúncia são as promotoras de justiça Fabiana Dal’Mas e Silvia Chackian.
“Essa denúncia representa a convicção da promotoria que há indícios de autoria e materialidade de um crime com violência obstétrica. Houve não apenas abuso na parte psicológica à vítima, como também uma má prática obstétrica na realização de manobras durante o parto, como a de Kristeller, uma forma inadequada de aceleração do procedimento que não é recomendada pela OMS”, afirma a promotora Fabiana Dal’Mas.
Até a última atualização dessa reportagem, a Justiça não havia se pronunciado se aceitava ou não a denúncia da promotoria. Se condenado pelos crimes denunciados, o médico pode pegar no mínimo 1 ano e 6 meses de reclusão, somadas as duas penas.
Os promotores de SP também pediram à Justiça que a influencer seja indenizada em R$ 100 mil por danos morais por suposta prática de violência obstétrica.
O que diz a defesa do médico
O g1 e a TV Globo procuraram a defesa de Renato Kalil que, por meio de nota, informou que “não tomou conhecimento da denúncia”.
O advogado do médico, Celso Vilardi, também ressaltou que “a lesão corporal foi descartada por laudo do IML, além de nunca ter havido qualquer tipo de violência em partos ou consultas”.
“Dr. Celso Vilardi, advogado do médico Dr Renato Kalil, informa que não tomou conhecimento da denúncia e ressalta que a lesão corporal foi descartada por laudo do IML, além de nunca ter havido qualquer tipo de violência em partos ou consultas”, disse a nota.
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Médico Renato Kalil é acusado de abuso sexual e violência obstetrícia — Foto: Reprodução
Depoimento em agosto
Em agosto deste ano, Renato Kalil foi ouvido pela polícia e admitiu que usou “palavras inadequadas” durante o parto da filha da influenciadora digital Shantal Verdelho. Ele alegou, porém, que as falas foram “apenas em um momento de incentivo motivacional, pois o parto era um parto difícil” e negou ter cometido violência obstétrica.
O obstetra é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo e afirmou que “se errou, foi apenas ‘verbalizando duas ou três palavras’ e nada mais, pois todo o restante do seu trabalho foi correto”.
Os abusos, segundo a denúncia, ocorreram durante o parto de Shantal em setembro de 2021, no Hospital e Maternidade São Luiz, na cidade de São Paulo.
A GloboNews teve acesso ao conteúdo do interrogatório, prestado no 27º Distrito Policial de São Paulo, na Zona Sul da capital paulista (leia mais abaixo).
Esta foi a primeira vez em que o médico foi ouvido formalmente sobre as denúncias feitas por Shantal Verdelho no fim do ano passado.
Procurada, a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) não deu detalhes da investigação porque o caso tramita em segredo de Justiça.
O advogado Sergei Cobra Arbex, que representa Shantal, afirmou que aguarda o envio dos autos ao Ministério Púbico, que é o titular da ação penal, e vai avaliar todas as provas para tomar uma decisão.
Desde as primeiras denúncias, a defesa de Kalil tem afirmado que o parto da influenciadora ocorreu “sem qualquer intercorrência”, que está “à disposição da Justiça”.
Depoimento e passo a passo do parto
No início do depoimento, Renato Kalil diz que a influenciadora o procurou por indicações de outras amigas, que também eram pacientes dele, e que a relação com Shantal era “superamigável” e “de intimidade”.
Questionado pelo delegado Eduardo Luis Ferreira sobre o passo a passo do parto, o obstetra relatou que, mesmo com a dilatação adequada para o nascimento normal e encaixada, sem a necessidade de cirurgia, a criança estava com o “polo cefálico na posição transversa” e que “em momento algum indicou a episiotomia, muito embora tenha conversado antes do parto várias vezes sobre esse assunto com Shantal, pois esse procedimento pode eventualmente ser necessário para evitar a ocorrência de graves lacerações na região vaginal da mulher”.
A episiotomia é uma incisão cirúrgica do períneo e da parede vaginal feita durante o parto, geralmente realizada para aumentar rapidamente a abertura para a passagem do bebê. Segundo o médico, Shantal recusou a episiotomia e houve lacerações de grau 2, que foram suturadas logo em seguida.
Questionado pela Polícia Civil se chamou o marido de Shantal para mostrar as lesões e se ele se recordaria das palavras que usou, Kalil afirmou que, logo após Mateus entregar Domênica para Shantal, chamou o pai, como sempre faz com os acompanhantes, para mostrar as lacerações e, em seguida, após realizar a sutura, “chamou-o novamente para mostrar que tudo estava ok”.
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A influencer Shantal durante o parto da pequena Domênica, em setembro, em São Paulo. — Foto: Reprodução/Instagram
Renato Kalil disse ainda que apenas mostrou a ele o procedimento e que se recorda que as palavras ditas foram apenas para mostrar-lhe onde teriam ocorrido as lacerações.
O relato contraria o que Shantal disse em áudio de conversa íntima vazada nas redes sociais. Na conversa, a influencer acusa Kalil de usar palavrões contra ela durante o parto e expor sua intimidade para o pai da criança durante o procedimento e também para terceiros.
“Ele chamou meu marido e falou: ‘Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela’. Ele falava de um jeito como ‘olha aí, onde você faz sexo, tá tudo fodido’. Ele não tinha que fazer isso. Ele nem sabe se eu tenho tamanha intimidade com meu marido”, contou.