Primeiro encontro começou nesta terça-feira (25) e ouvirá, até quinta (27), 70 lideranças dos campos, das águas e das florestas, além de comunidades tradicionais do Nordeste brasileiro
Nesta terça-feira (25), Tamandaré, no interior de Pernambuco, foi palco da abertura do Seminário Meninas e Mulheres no Protagonismo da Justiça Climática – que também terá edições em Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF), no segundo semestre de 2024.
Segundo a secretária Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política (Senatp) do Ministério das Mulheres, Carmen Foro, ouvir as mulheres em locais mais propensos a sofrer com as mudanças climáticas é essencial para a formulação de políticas públicas.
“As mudanças climáticas são uma realidade e todos estamos preocupados. Escutar quem vive nos biomas é fundamental. É preciso que se reconheça o papel das mulheres na preservação e na solução de problemas climáticos”, destaca Carmen Foro.
A crise da emergência climática constitui, atualmente, um dos mais graves problemas mundiais, reconhecida no último relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial como fonte de fortes prejuízos econômicos para os próximos dois anos, caso medidas globais não sejam tomadas. Ela atinge, principalmente, pessoas mais vulneráveis de países em desenvolvimento e, sobretudo, mulheres e meninas.
“É fácil constatar que os maiores impactos dos eventos climáticos extremos acometem as mulheres negras, quilombolas, indígenas, ciganas, mulheres com deficiência, em situação de rua, de comunidades tradicionais dos campos, das florestas, das águas e das periferias urbanas”, afirmou Carmen.
São essas mulheres que foram convidadas para este encontro de onde sairão as propostas para formulação de políticas públicas e também as diretrizes que o Ministério das Mulheres apresentará para os debates tanto no contexto do Grupo de Trabalho de Empoderamento de Mulheres do G20 – atualmente sob responsabilidade da pasta -, como da Conferência Mundial do Clima (COP 30), que acontece em Belém (PA) no próximo ano.
Conforme destaca Adriana Britto, coordenadora-geral no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), também presente no seminário, o Governo Federal tem buscado colher informações e sugestões da sociedade para que seja feito um plano com “a cara deste país”. “A gente entender a potências das mulheres nesse processo e aproveitar o conhecimento das comunidades tradicionais é fundamental.
Na abertura do seminário, também foi realizado o lançamento da cartilha “Direitos sociais das mulheres pescadoras”, uma parceria da GIZ com o Ministério do Meio Ambiente.
Protagonismo versus desigualdade
Segundo dados do relatório “Feminist Climate Justice: A Framework for Action”, da ONU Mulheres, publicado em 2023, 10% das mulheres no planeta vivem em extrema pobreza e, em contextos de desastres ou conflitos, elas são submetidas a ainda mais violência de gênero, com aumento no número de estupros e casamentos infantis.
Além disso, mundialmente, mulheres gastam 2.8 horas a mais do que homens em trabalho doméstico não remunerado e na garantia do bem-estar dos filhos, idosos e pessoas com deficiência. Ainda segundo o relatório da ONU, em contextos de tragédias, recai sobre elas também a responsabilidade com a coleta de água potável e a produção de alimentos.
Por outro lado, mulheres afetadas pelos efeitos das transformações climáticas são as protagonistas das ações de conservação da biodiversidade e da produção de alimentos agroecológicos, que garantem a segurança alimentar e nutricional da sociedade brasileira.
Para a pescadora Isabel Cristina, liderança da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais, fazer parte dessas discussões é importante para sair do anonimato e virar protagonista nas discussões. “A gente precisa desse espaço para garantir nossa sobrevivência, nossa realidade, o espaço que precisamos ocupar”, disse.
Diante deste cenário, até quinta-feira (27) o seminário irá dialogar sobre gestão de risco e de desastre em territórios impactados; insegurança alimentar e nutricional; desastres climáticos e as consequências para a saúde; atividades produtivas sob o risco dos impactos climáticos; direito à cidade e racismo ambiental; e garantia de acesso a recursos hídricos, saneamento básico e abastecimento.
No último dia, o Ministério também realizará uma formação temática sobre as tecnologias socioambientais de enfrentamento à crise climática. O Seminário é fruto da parceria com a Cooperação Alemã; com a ONG GIZ; Territórios Vivos – Territorialidade, Tradição e Tecnologia; Rede Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais; Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (PCTs) e Ministério Público Federal (MPF).
Justiça Climática no G20
A série de Seminários Meninas e Mulheres no Protagonismo da Justiça Climática ocorre ao mesmo tempo em que o Brasil, à frente da Presidência do Grupo dos 20, instituiu, pela primeira vez, o Grupo de Trabalho Empoderamento de Mulheres que, por sua vez, selecionou a justiça climática com perspectiva de gênero como um dos três temas de maior relevância para o debate global.
No âmbito do GT, o Ministério das Mulheres busca o consenso para a realização de uma pesquisa global e inédita sobre a realidade das mulheres no combate às mudanças climáticas extremas que demonstre não apenas a urgência de se impedir que os problemas se asseverem, como também que possa reconhecer as tecnologias sociais que mulheres desenvolvem em suas comunidades pelo bem-viver de todos.
Fonte: ASCOM/PR