Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive em cima de uma moto!
Apesar de serem minoria entre os que pilotam motocicletas, as mulheres estão cada vez mais inseridas no mundo sob duas rodas. A dificuldade para enfrentar o preconceito e a insegurança, no entanto, ainda são algumas das barreiras para que elas ocupem mais espaço nesse mundo tido como masculino. Se esse é o seu caso, um curso de pilotagem de moto pode te ajudar a encarar o trânsito e conquistar a tão sonhada liberdade, que só quem pilota pode descrever.
Para o jornalista e empresário Tite Simões, 59 anos, a busca por ajuda para começar a pilotar está aumentando cada vez mais entre as mulheres. Idealizador de um curso de pilotagem de moto, a Academia Brasileira de Trânsito (ABTRANS) , que surgiu em 2014, ele conta que o público feminino marca presença em suas aulas. “Atendemos homens e mulheres, mas percebemos um crescimento muito grande de mulheres nos procurando. No meu último curso, em dezembro, por exemplo, de 8 alunos, 7 eram mulheres”, afirma.
Ainda que timidamente, elas estão avançando no interesse pelo motociclismo . Por enquanto, as mulheres ainda correspondem a 22% entre os brasileiros habilitados, mas esse número cresceu 50% nos últimos seis anos, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).
A necessidade é o principal motivo que faz com que o público feminino queira investir em aulas para motociclistas. O desgaste do deslocamento no trajeto casa-trabalho e a perda de tempo no trânsito, seja em transporte público ou no carro, são duas queixas recorrentes entre as alunas.
“É comum ver mulheres procurando mais qualidade de vida. Tivemos um caso de uma que não estava conseguindo ver os filhos, nem cuidar da casa e de si porque trabalhava e morava em regiões opostas. Ela disse que dormia apenas 4 horas por dia e, depois que começou a pilotar a moto, passou a conseguir dormir de 6 a 7 horas e fazer o que antes não tinha tempo.”
Outra razão que faz com que as mulheres optem pela motocicleta e pelo curso é a independência. “Muitas querem se livrar da garupa, mas não se sentem prontas sozinha”, relata.
Curso de pilotagem oferece mais segurança para mulheres
Além dos clientes que já são habilitados, as aulas podem ser frequentadas por quem ainda não fez autoescola. “Já percebemos que algumas mulheres não gostam muito de fazer autoescola. Elas reclamam que os instrutores não têm paciência, rola assédio, falta de respeito, e por isso querem aprender em outro lugar e ir à autoescola apenas para fazer as aulas obrigatórias e o exame mesmo”, analisa.
Segundo Tite, uma das alunas lhe contou que tinha desistido de andar de moto por conta de um instrutor de autoescola que não havia lhe passado informações além das básicas. Durante a aula, ela acabou batendo a moto e ficou traumatizada. “Ele queria que ela pagasse pelo dano e ainda a chamava de burra. Durante muito tempo ela achou que o problema era ela. Isso não pode acontecer.”
O empresário defende que as mulheres são mais prudentes que os homens, o que as torna melhores sob o comando da moto. “As mulheres pilotam melhor do que os homens por terem mais cuidado. Elas são mais focadas, prestam mais atenção e têm um instinto natural de preservação, enquanto os homens se distraem facilmente.”
Ele ainda conta que quando um homem não sabe algo, ele vai lá e aprende na “marra”. Já a mulher procura fazer um curso. “Muitos homens, quando estão aprendendo a pilotar, compram a moto mesmo sem saber e treinam sozinhos. Aí se passam duas semanas, eles caem e me ligam. A mulher paga um curso primeiro e evita essa dor de cabeça.”
Aulas ajudam a desconstruir preconceitos e obstáculos
Diante de uma sociedade machista, o mito de que mulheres não “servem” para pilotar moto é quebrado com a ajuda os instrutores da ABTRANS. No curso, eles procuram trabalhar as queixas das alunas, para que elas superem as dificuldades e tenham mais confiança na moto.
Em relação ao medo de pilotar, Tite fala que homens e mulheres não se diferem. “O medo não tem gênero, todos têm igual”, afirma.
Ele ainda acredita que é importante ter esse sentimento para ter cautela ao conduzir qualquer veículo. “Uma das condições para ter moto e dirigir um carro é ter consciência do medo e transformá-lo a medida que vai conhecendo mais sobre pilotagem. Assim a pessoa vai controlando o sentimento, mas sempre terá cuidado no trânsito”, recomenda.
Sobre outras dificuldades encontradas pelo público feminino, o instrutor destaca a física como uma das mais temidas. Por conta da altura das mulheres, que geralmente possuem entre 1,50 m e 1,65 m, muitas precisam de adaptações nas motos para conseguirem conduzir, já que elas são projetadas para pessoas com 1,70 m, a média da altura masculina no Brasil.
“Algumas mulheres chegam aqui achando que nunca vão conseguir pilotar uma moto grande, mas isso é reflexo do preconceito. Claro que, em alguns casos, é preciso modificar algumas peças para que elas alcancem a moto, mas em relação ao peso da motocicleta, por exemplo, é tudo uma questão de habilidade. É possível mulheres pilotarem motos grandes e pesadas”, assegura ele.
Na ABTRANS , as aulas acontecem no estacionamento superior do Shopping D, na Zona Norte de São Paulo, têm duração de 4h30 e intercalam entre prática e teoria. São 15 motos à disposição dos alunos – homens e mulheres misturados -, que geralmente saem de lá prontos para dirigir depois da primeira aula.
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O curso de pilotagem pode ser feito mais de uma vez, mas Tite afirma que 85% das alunas conseguem sair de lá prontas na primeira aula. “É tudo uma questão de consciência, acreditar e treinar”, garante.
Fonte: Delas – iG