Ao contrário de alguns padres e pastores, não vejo mal nenhum no fato de escolas públicas tentarem ensinar à criançada que é moralmente errado discriminar gays, lésbicas, travestis etc. Não estou tão certo quanto à eficácia dessa empreitada, mas me parece melhor tentar do que não tentar.
Os que se opõem à proposta costumam afirmar que ela tira a autonomia dos pais para educar seus filhos da forma que preferirem e falam numa ideologia de gênero que destruiria a identidade sexual das crianças e, de quebra, arruinaria a família. A primeira acusação me parece infundada, e a segunda, inócua.
Obviamente, os pais têm o direito de ensinar o que quiserem a seus filhos. O que eles não podem é privar os rebentos de entrar em contato com ideias diferentes das suas. Se forem convincentes na defesa de seus princípios, triunfarão. Caso contrário, sempre poderão dizer que Deus tinha outros planos para a criança.
Quanto à ideologia de gênero, não nego que ela exista. Certas alas do movimentos feminista e gay sustentam que as diferenças comportamentais entre meninos e meninas não passam de construções culturais que a sociedade machista lhes impõe. Não sei se é esse o espírito que anima os vários planos de educação, mas a ideia é tão despropositada que não tem muita chance de funcionar.
Há hoje um oceano de evidências científicas a sugerir que as diferenças comportamentais entre os sexos não são artificiais. Das preferências de meninos e meninas por certos brinquedos e até por cores, tudo parece ter um dedo da biologia, mais especificamente de uma combinação dos genes com a exposição a hormônios durante a gravidez. Não é que não haja espaço para a cultura operar, mas ela não consegue transpor alguns dos limites que a biologia coloca.
A maioria da humanidade está fadada a ser predominantemente heterossexual. Os defensores da família podem, portanto, ficar sossegados.
Fonte: Folha de S. Paulo
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