Pesquisa inédita da ONU Mulheres será apresentada no Marché du Film, em Cannes
As desigualdades de gênero e raça seguem marcando o setor audiovisual brasileiro. Uma nova pesquisa da ONU Mulheres Brasil revela que mulheres negras que atuam em áreas técnicas e criativas recebem, em média, apenas 54% da remuneração dos homens brancos no setor. O estudo será apresentado entre os dias 13 e 21 de maio de 2025, durante o Marché du Film, em Cannes, onde o Brasil é o país homenageado.
Os dados apontam que, enquanto homens recebem em média R$ 24.368,42, mulheres recebem R$ 18.652,54, o que representa 76% desse valor. A disparidade se intensifica entre mulheres negras, que têm rendimento médio de R$ 13.187,50 — quase metade da média dos homens brancos.
A pesquisa, realizada em parceria com a startup Diversitera, analisou 88 produções brasileiras lançadas entre 2018 e 2022, investigando os perfis de profissionais em áreas estratégicas como direção, roteiro e produção. O recorte incluiu gênero, raça e outros marcadores sociais.
Formadas, mas sem acesso a liderança
Apesar de 57% das mulheres possuírem graduação e 67% pós-graduação, elas permanecem com acesso limitado a cargos de liderança. Mulheres representam 48% da equipe técnica, mas estão sub-representadas em funções de comando — e ganham menos, mesmo quando mais qualificadas.
O estudo também revela que:
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Mulheres lideram apenas nas áreas de direção de arte e como roteiristas-chefes;
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Não há pessoas negras nas funções de direção de som, fotografia, produção e arte;
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Profissionais negras predominam entre quem recebe menos de R$ 80 mil por ano via PJ;
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Mulheres são maioria entre quem recebe abaixo de R$ 360 mil anuais.
Ambiente hostil e insatisfação
Além da desigualdade salarial, o ambiente de trabalho também se mostra excludente. Segundo a pesquisa:
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39% das mulheres e 45% das pessoas negras disseram não estar satisfeitas com os créditos recebidos em suas obras;
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20% das mulheres relataram insatisfação com o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Debate internacional
A apresentação dos resultados ocorrerá em dois painéis no Marché du Film:
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Dia 14 de maio: debate sobre gênero e liderança com representantes do Brasil e da França;
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Dia 18 de maio: discussão sobre raça e sub-representação da população negra, que compõe 54% da população brasileira, mas segue invisibilizada no audiovisual.
A pesquisa integra a iniciativa Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual, lançada pela ONU Mulheres Brasil em 2022, com o Instituto +Mulheres. Em 2025, a articulação ganha reforço com a ApexBrasil e o programa Mulheres e Negócios Internacionais, ampliando a mobilização por igualdade de oportunidades no setor cultural e criativo brasileiro.
Fonte: Brasil de Fato