A força-tarefa da operação Lava Jato ganhou novas personagens no mês passado. Paralelamente às ações penais, comandadas pelo juiz federal Sérgio Moro, quatro juízas residentes em Curitiba, no Paraná, atuam na esfera cível. No direito, a esfera cível diz respeito à reparação do dano causado, geralmente feita por meio de pagamento de indenizações. Já na área penal, sob a guarda de Moro, o réu geralmente ”paga” com a privação de sua liberdade.
A juíza Gisele Lemke, titular da 2 ª Vara Federal de Curitiba (PR), foi a primeira a entrar em cena.
Gisele abriu, no final de maio, ação civil pública de improbidade administrativa contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, o empresário Gerson de Mello Almada, da Engevix Engenharia, e outros três executivos supostamente envolvidos no esquema. A ação de improbidade corresponde ao desdobramento cível dos crimes investigados na Lava Jato.
Filha de juristas e professora de direito tributário, Gisele é vista como durona por seus funcionários — mesma fama atribuída a Sérgio Moro. Tanto que é ela quem o substitui na 13 ª Vara em períodos de férias. Em sala de aula, é “compenetrada”, segundo o advogado Heroldes Bahr Neto, que foi seu aluno no Ibej (Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos) no final da década de 1990. ”Ela era comprometida e a qualidade da aula era acima da média. Não era uma carrasca, como vemos na graduação, mas, sim, ponderada”, conta.
O ”quarteto” da área civil também conta com as juízas Giovanna Mayer, Ana Carolina Morozowski e Anne Karina Stipp Amador Costa. Cada uma ficou responsável por uma ou duas das cinco ações por improbidade propostas pelo Ministério Público Federal em fevereiro. O valor pedido pelo órgão é de R$ 4,47 bilhões por causa de desvios na Petrobras.
Giovanna, por exemplo, da 5 ª Vara Federal de Curitiba, tem em mãos a ação relacionada ao pagamento de propina feito pela construtora Camargo Corrêa e pela Sanko ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. O caso mais ”polêmico” de Giovanna foi ter suspendido a proibição da movimentação de soja transgênica no porto de Paranaguá, imposto pelo governo do Paraná em 2003.
Como a maioria dos juízes, elas são discretas e não gostam de aparecer.
No entanto, Anne Karina Stipp Amador Costa, que pegou a ação em que a Galvão Engenharia é citada, foi personagem, em 2010, de uma reportagem da revista “IstoÉ” sobre uma de suas decisões. Anne utilizou valores dos depósitos das penas pecuniárias da Vara Criminal de Curitiba para quitar a dívida que o engenheiro mecânico Adolfo Guidi tinha com a Caixa Econômica Federal. Na época, ele contraiu despesas porque havia deixado de pagar as prestações de sua casa e largara o trabalho para cuidar do filho, que sofre de uma doença rara e sem cura.
Mãe de três filhos, ela também esteve em outro grande caso de corrupção em 2005. Foi ela quem recebeu a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra um grupo de pessoas acusadas de participar de fraudes no pagamento de títulos da dívida da Petrobras e Eletrobras. O caso ficou conhecido como ”Big Brother”.
A última integrante do grupo, Ana Carolina Morozowski, ficou responsável pela ação que cita a empresa Mendes Júnior. Ela ganhou os ‘holofotes’ em 2003, quando reconheceu a união estável entre o inglês David Ian Harrad e o brasileiro Toni Reis, que tinham um relacionamento de mais de 10 anos. ”Essa mulher foi uma desbravadora do direito e da dignidade humana”, conta Reis, ativista dos direitos humanos.
As juízas trabalham em salas da Justiça Federal, no bairro Ahú, em Curitiba. Procuradas pela reportagem do UOL, não quiseram dar entrevistas.
Fonte: Uol