Os danos ambientais ocasionados pelo terceiro rompimento das bacias de contenção levantadas em torno do parque solar, que está sendo construído em São Gonçalo do Gurgueia, chegaram à tribuna da Assembleia Legislativa do Piauí (ALEPI) nesta segunda-feira (02).
A deputada Teresa Britto (PV) afirmou que vai pedir o embargo da obra no município até que o meio ambiente e as famílias atingidas na região sejam ressarcidas de todos os prejuízos. Para isso, a parlamentar vai entrar com requerimento para realização de audiência pública, que deverá acontecer na cidade com a presença do Ministério Público do Piauí (MP-PI), Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMAR), prefeitura e representantes da Casa Legislativa.
“Se a obra que nem terminou de ser construída já está provocando diversos danos ambientais, imagine quando a usina de geração solar estiver concluída, por isso vamos levar o poder da Assembleia Legislativa para lá, realizar uma audiência pública e pedir o embargo da obra. Queremos que todos sejam ressarcidos, tanto o meio ambiente como as famílias atingidas”, disse a deputada.
Teresa Britto afirmou que soube do caso através de reportagens publicadas pelo Piauihoje.com e de lideranças do Partido Verde da região do desastre. [A matéria de vocês nos] embasou muito, por isso vou apresentar o requerimento que deve ser aprovado amanhã e faremos a audiência para ouvir a população, saber a realidade dos fatos, temos notícias de que o Rio Gurgueia está sofrendo com assoreamento, de estradas cortadas, pontes quebradas”, comentou.
Moradores da zona rural de São Gonçalo do Gurgueia relataram que o primeiro rompimento das bacias de contenção aconteceu no último dia 5 de fevereiro. A água desceu com violência do alto da Serra Santa Marta, onde o complexo fotovoltaico está sendo construído, em direção às fazendas das comunidades que ficam abaixo da obra.
A força da queda d’água arrastou árvores, matou animais e devastou plantações de diversos agricultores familiares que trabalham na plantação de milho e melancia, produtos que seriam comercializados durante o período da Semana Santa.
Uma equipe da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos esteve no município investigando os impactos ambientais. Em entrevista ao Piauihoje.com, a secretária da pasta, Sádia Castro confirmou que pode notificar, multar e fazer recomendações à Enel Green Power, empresa responsável pela obra do parque solar. A Enel é uma companhia italiana, que atua na geração e distribuição de energia elétrica.
ENEL GREEN POWER
Em nota, a empresa informou que está tendo dificuldades para lidar com o caso por conta das precipitações rotineiras na região, mas que mantém 80 funcionários e 50 máquinas atuando para minimizar os estragos na obra. A seguir o esclarecimento enviado pela assessoria de comunicação da Enel logo após o último rompimento das bacias que aconteceu este sábado (29).
A Enel Green Power informa que está atuando, desde ontem, para analisar os impactos da forte chuva que atingiu a região do parque Solar São Gonçalo na manhã do último sábado, com volume equivalente a 10 dias em relação a média histórica de chuvas para o mês de fevereiro. Cerca de 80 técnicos, com 50 máquinas (como tratores, caminhões e retroescavdeiras), têm trabalhado dentro e fora do parque para conter as efeitos das chuvas, mas encontram dificuldade de deslocamento, em função das precipitações frequentes no local.
No sábado, representantes da companhia visitaram moradores das comunidade de Buritizinho e Macacos para verificar se foram afetados pelas chuvas e para prestar a assistência necessária. A companhia acrescenta que uma empresa de consultoria especializada já está realizando um estudo voltado a mapear as áreas atingidas pelas frequentes chuvas na região, melhorar o acesso à água das comunidades afetadas e avaliar o impacto de chuvas futuras. Essa análise será utilizada para verificar a necessidade de medidas adicionais para a contenção de sedimentos, externos às obras do parque, de outras medidas de proteção.
O deputado estadual Ziza Carvalho (PT), durante pronunciamento na Assembleia Legislativa nesta segunda-feira, avisou que esteve em São Gonçalo do Gurgueia na semana passada e disse que houve no município “um desastre ambiental sem precedentes”, danificando córregos e vegetação da Bacia do Gurgueia.
O parlamentar também lembrou que a gestão municipal denunciou o caso aos órgãos de controle responsáveis pela fiscalização da obra, no entanto, continua sem resposta sobre o desastre ambiental.
“É preciso que o Piauí não se transforme em uma nova Mariana, como aconteceu em Minas Gerais. Que a gente tenha uma resposta imediata, para esse tipo de acidente”, cobrou.
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Fonte: Piauí hoje