Para especialistas, crianças bem informadas são menos vulneráveis a essa violência
A violência sexual contra crianças e adolescentes correspondeu a 25,7% das notificações recebidas pelo Disque 100, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, em 2013. As principais vítimas estão na faixa entre cinco e 12 anos. Para os especialistas, as melhores armas contra essa violência são informação e dar à criança a segurança de que ela pode confiar nos pais em qualquer situação, mesmo as mais constrangedoras. Mas como alertar o filho para o perigo quando ele, muitas vezes, ainda nem sabe o que é sexo?
“Uma criança bem informada é menos vulnerável”, afirma a psicóloga Ana Claudia Bortolozzi Maia, coordenadora do Lasex (Laboratório de Ensino e Pesquisa em Educação Sexual), da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Segundo ela, é preciso dizer ao filho que o toque por parte de uma criança mais velha ou de um adulto torna-se inadequado quando a pessoa pede “segredo” sobre o ato.
Para a criança entender, pode-se explicar que a babá pode tocá-la no banho ou que um médico, na presença de um responsável, pode tocá-la a fim de examiná-la. E esses profissionais não pedem segredo. Os pais podem contar também com a ajuda da literatura para o filho compreender a situação: “O Segredo Segredíssimo” (Geração Editorial) e “Pipo e Fifi”, disponível no site www.pipoefifi.org.brprojeto.html, são bons exemplos de livros que ajudam a trabalhar o tema em casa.
Segundo o Instituto Cores – Centro de Orientação em Educação e Saúde, organização socioeducativa sem fins lucrativos, cerca de 87% dos abusos ocorrem dentro da família ou envolvem pessoas da convivência da criança. Um estudo, divulgado em maio deste ano, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), revelou que a violência é praticada, na maioria das vezes, por algum parente (33%) ou um amigo próximo da família (25%).
“O vínculo de dependência afetiva e o uso do poder entre abusador e abusado é o facilitador para que a violência aconteça. A vítima inclusive se sente culpada e fica constrangida de contar para alguém”, afirma a psicóloga Patricia Oliveira de Souza.
Conversa de acordo com a idade
De acordo com a faixa etária da criança e seu amadurecimento, os pais têm de dar a ela informações sobre como lidar com o próprio corpo.
Com os menores, que ainda não sabem o que é sexo, é necessário demonstrar e explicar noções de privacidade, como ir ao banheiro de porta fechada ou não trocar de roupa na frente de outras pessoas.
É importante mencionar os nomes (técnico e o utilizado pela família) das partes íntimas, dizer que o corpo pertence à criança e que não deve ser tocado sem a sua permissão. Deixe claro que ela pode dizer não a adultos que tentem tocá-la, mesmo que seja uma pessoa querida. Com tato, os responsáveis devem explicar que um afago na cabeça é uma forma de carinho, mas nos genitais, não. E o contrário também vale, ou seja, os pais devem ensinar ao filho que ele não deve tocar nas partes íntimas dos outros, sejam do seu convívio ou não.
Para os maiores, por volta dos nove ou dez anos, é indicado contar que existe esse tipo de violência (sexual) e orientar para que reajam caso algum estranho tente forçá-los a acompanhá-lo. Ou que se soltem o mais rapidamente possível da pessoa e busquem ajuda de alguém de confiança.
É bom lembrar que existem abusos sem contato físico como estimular a nudez, mostrar uma revista ou filme pornográfico ou se despir intencionalmente na frente da criança. É preciso que os responsáveis também alertem para essas formas.
De olho nos sinais
A psicóloga Neusa Sauaia, fundadora do Núcleo Espiral – Pesquisa, Assistência e Prevenção da Violência contra Crianças e Adolescentes, afirma que uma criança que sofreu abuso sexual dá pistas sobre o ocorrido.
Segundo Neusa, na lista de possíveis sinais estão ansiedade elevada, problemas para dormir e se alimentar, aumento da agressividade, brincar com temas sexuais com bonecas e objetos e mostrar conhecimento sobre assuntos sexuais ainda não revelados pelos pais. Tornar-se apático, medroso, recusar a companhia de alguém ou ficar “grudado” em uma pessoa também podem ser indícios de que algo aconteceu.
O abuso também pode deixar rastros físicos, como assadura, coceira nos genitais ou nas nádegas. “Nenhuma criança vai chegar e dizer ‘estou sendo abusada’, mas ela dá sinais. Daí a importância do diálogo. Perguntar como foi o dia, o que fez, com quem brincou. É preciso dar atenção à criança para que ela saiba que pode confiar em um adulto para contar algo que a incomodou, e isso não vale só para abuso”, declara a psicóloga Ana Cláudia Bortolozzi Maia, da Unesp.
Fonte/foto: UOL