O autor do livro Prosperidade Sem Crescimento – Vida Boa em um Planeta Finito, o economista britânico Tim Jackson, é um otimista. Apesar de defender que o planeta é finito e que crescimento econômico não garante felicidade, também acredita que temos condições de mudar o jogo. Numa entrevista que deu à repórter Maria Bitarello, para a Design de Causas (empresa que desenvolve causas sociais, da qual sou sócia), Tim falou também sobre mulheres. Vou reproduzir aqui os trechos mais legais:
Você vê exemplos positivos que reforcem seu argumento em favor da diversidade no ambiente de trabalho?
Trabalhando com questões ambientais e sociais nos últimos 25 anos, o que mais me tocou foi notar como os países escandinavos, de alguma maneira, têm uma diversidade de gênero muito mais entranhada culturalmente. E é notável a diferença que isso faz: há muito mais abertura para as políticas ambientais e econômicas e ao debate. Há muito mais diversidade na elite política, no ambiente de negócios. E não é apenas que as mulheres lá têm mais oportunidades nessas áreas; os homens também têm mais oportunidades em casa. A licença paternidade da Escandinávia (Na Suécia, pais e mães têm a possibilidade de tirar mais de um ano de licença), já há décadas, era algo sem precedentes aqui na Inglaterra. E é interessante observar o impacto disso tudo nas políticas públicas, porque, assim como eu falei antes sobre a diversidade nos ambientes de trabalho, a política lá é bem mais criativa, sustentável, socialmente consciente e ciente de nossa interdependência como seres humanos e com todo o meio ambiente. Eu acho que é por isso que eles estão liderando as legislações em sustentabilidade e meio ambiente há tanto tempo, além de terem criado um modelo de economia social de mercado. E, para mim, isso tudo está intimamente ligado à política de diversidade que eles praticam e que nunca se viu nos países anglo-saxões.
Você acredita que governos e empresas possam atuar juntos em iniciativas que aumentem a responsabilidade social? Você vê essa iniciativa partindo de um dos dois lados?
Por exemplo, o diferencial do qual eu falei na Escandinávia é algo que lá é entranhado culturalmente, e é isso que se traduz na política – sobretudo na política –, onde há forte representatividade por minorias, por mulheres. E a política, por sua vez, determina o terreno de atuação para os negócios. Por fim, a empresa pode agir, nesse cenário, com muito mais riqueza de diversidade. Se é que existe uma relação causal aqui, eu diria que ela vai mais da cultura para representação política; da política para os negócios; e logo nos negócios vai haver espaço para diversidade.
Você vê uma causa com potencial forte o bastante para unir o setor empresarial?
O que mais tenho visto é em relação à remuneração. No topo da pirâmide temos alguns indivíduos – a pesquisa da ONG britânica Oxfam dizia que 85 pessoas, hoje, são donas de metade da riqueza do mundo. Outra causa forte é a de diversidade de gênero, mas ela ainda é focada, sobretudo, nos salários dos cargos executivos, na retirada do teto salarial de vidro que inibe a ascensão de mulheres à direção das empresas. É uma causa importante, mas não é a única relacionada ao gênero, porque a maioria desses trabalhadores na base da pirâmide, ganhando menos de um salário mínimo e correndo risco de vida, são mulheres e crianças. Essa me parece ser a questão de gênero que está oculta. Aquela que está lá na base, não no topo.
Fonte/ Foto: Yahoo Mulher