Os métodos de formação da sociedade brasileira deixam escancarado: “carro é coisa de homem”. Não à toa, meninos brincam de carrinho e meninas, de casinha e boneca. Em pleno 2015, esses são valores ainda profundamente arraigados em nossa cultura.
Aos poucos, a realidade está mudando, embora a passos muito, muito lentos. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo, cerca de 15% dos pouco menos de 100 mil funcionários trabalhando em empresas ligadas ao setor automotivo na região são mulheres. Estamos falando de fábricas e fornecedores de peças que estão no mercado há anos, e portanto ainda operam com um número muito grande de funcionários antigos, a grande maioria homens.
Quando nos voltamos a um complexo recém-inaugurado, caso da unidade da Fiat-Chrysler em Goiana (PE), onde é feito o Jeep Renegade, o percentual cresce, mas ainda de forma muito tímida: 18%. É menos de uma funcionária do sexo feminino para cada quatro do sexo masculino.
Engenheira por vocação
Entretanto, as mulheres que entram no ramo querem nele crescer e se estabelecer. UOL Carros visitou a unidade da FCA em Goiana recentemente e conheceu algumas dessas histórias. Um exemplo é o de Dulcelene Santos Araújo, especialista da área de solda em Goiana. Por influência do pai, que era mecânico, aprecia automóveis desde a infância. “Sempre gostei muito de mexer com isso. Vivia quebrando e remontando os carrinhos de brinquedo do meu irmão”, contou.
O gosto pelas quatro rodas levou Dulcelene a se formar em engenharia mecânica pela Universidade Politécnica de Pernambuco, em 2010. Tão logo recebeu o diploma, foi trabalhar com navios em um estaleiro no porto de Suape, porém sempre de olho em uma possível vaga na futura fábrica da FCA.
Passados dois anos de processo seletivo, foi contratada para cuidar de uma equipe de 40 operários, todos homens, no setor de funilaria. “O trabalho é tranquilo. Todos me respeitam. A meta agora é buscar uma promoção, virar supervisora… Mas o mais importante é que já estou na área que gosto”, acrescentou.
Dos confeitos à guarnição de portas
Diferentemente de Dulcelene, a montadora Miriam Lima jamais imaginava que iria trabalhar na produção de automóveis. Antes, a pernambucana tocava um negócio informal no qual preparava doces, bolos e salgados para festas. Conseguiu um emprego como terceirizada na época da construção do complexo e, depois, foi efetivada para operar na guarnição de portas.
“Antes, eu não dava a menor bola para um carro. Hoje, basta ver um estacionado que já começo a conferir se as portas estão bem montadas”, brincou. Apesar de serem ramos totalmente diferentes, Miriam consegue encontrar um ponto de relação entre sua atual e sua antiga profissão. “Assim como quando eu fazia um bolo mais decorado, tenho que prestar muita atenção nos detalhes. Não posso deixar passar nenhum defeito”, comparou.
Em comum com Dulcelene, Miriam também tem o desejo de fazer carreira na fábrica. “Sonho um dia em virar monitora, né? Por que não?”, completou.
Fonte: Uol