Técnica retira ovários de mulheres com câncer e reimplanta após cura. Banco de tecidos ovarianos, inédito no Brasil, é implantado no Ceará.
Moradora de Fortaleza, a técnica de enfermagem Juliana da Silva tem uma filha de 13 anos. Em 2012, ela engravidou novamente mas sofreu um aborto espontâneo. No ano passado, mais uma notícia ruim: foi diagnosticada com câncer de mama e o tratamento poderia impedi-la de ter outros filhos. “Você tem um sonho, uma meta, uma carreira. Tem um caminho a percorrer. Na hora de um diagnóstico desse, de um câncer, o seu mundo para”, revela.
Mas o sonho de ser mãe novamente pode estar mais perto para Juliana. Ela e outras 20 mulheres portadoras de câncer no Ceará podem ter a chance de engravidar graças a uma técnica inédita no Brasil, o congelamento de ovários. “A proposta da técnica é retirar esses ovários antes que elas comecem a terapia, congelá-los e depois do diagnóstico de cura, implantar esse ovário novamente no corpo delas”, explica o médico ginecologista e pesquisador João Marcos Menezes, do Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (Geon), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O médico explica que os ovários das pacientes que se submetem à radioterapia ou à quimioterapia são lesionados por causa do tratamento. “Quando uma mulher jovem tem câncer e se submete ao tratamento, tem uma alta chance uma falência de seus ovários, o que pode levar a uma menopausa precoce e à infertilidade”. O procedimento permite que a fertilidade de pacientes sobreviventes do câncer seja mantida. Juliana retirou os ovários no ano passado e estão armazenados no Banco de Tecidos Ovarianos.
O projeto de pesquisa contempla 20 mulheres. Os ovários de duas mulheres já foram congelados e ficam armazenados, por tempo indeterminado, até que as pacientes finalizem seus tratamentos. “Eles ficam um nitrogênio líquido a menos 196 graus célsius. É como se o tempo parasse, aquele tecido que está ali não envelhece, ele não tem metabolismo. Depois que o oncologista libera e elas optam por engravidar, os ovários são reimplantados”.
O Banco de Tecidos Ovarianos está implantado no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce). “Essa é uma técnica recente no mundo. Existem apenas 32 crianças nascidas vivas com essa técnica, nenhuma na América do Sul. Nós conseguimos trazer o primeiro banco público para o Ceará”, explica. Por ser experimental, ainda não existem estatísticas sobre os procedimentos. “Na ciência nada é 100%, mas elas têm mais chances [de ter filhos] fazendo o procedimento do que não fazendo”.
Pré-requisitos
De acordo com o médico, as mulheres precisam satisfazer alguns critérios para realizar o procedimento. Entre eles, ter menos de 40 anos e ainda apresentar ciclos menstruais regulares. Além disso, a coleta dos óvulos deve ser feita antes ou nas fases iniciais das sessões de quimioterapia/radioterapia. As partes dos ovários coletadas são armazenados no Hemoce, no mesmo local do banco de sangue de cordão umbilical e placentário.
“Essa é uma parceria feita entre o Hemoce, o Geon e a Maternidade Escola [Assis Chateaubriand, da UFC], com financiamento do Banco do Nordeste. A gente espera que a Secretaria de Saúde do Ceará e a Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa comprem a ideia para que mais mulheres possam se beneficiar”.
Fonte: G1