A pirâmide populacional brasileira é especialmente injusta com as mulheres. A distribuição de renda, que já é uma tragédia, piora quando observada pelo prisma da questão de gênero: enquanto 62% da população masculina tem ganhos de no máximo cerca de dois salários mínimos, entre as mulheres a taxa bate em 71%.
Homens sem rendimento de trabalho representam 17% da população economicamente ativa (PEA). Entre as mulheres, as “sem renda” chegam a 28% da PEA. Mais de um século após o fim da escravidão!
A OCDE acaba de divulgar dados inéditos sobre o cenário global de violência econômica contra as mulheres, com foco na discriminação social e institucional. Há resultados surpreendentes: a Argentina está ao lado da Bélgica entre os países com menor desigualdade quando se leva em consideração a discriminação institucional contra o trabalho feminino. Egito e Iêmen estão no extremo oposto.
A Dinamarca é o país onde os homens estão mais presentes ajudando as mulheres no trabalho doméstico sem remuneração (as dinamarquesas em média trabalham apenas 30% a mais que seus companheiros). O extremo oposto é o Paquistão, onde as mulheres trabalham em casa dez vezes mais que os homens. Sem remuneração.
A OCDE já classifica a violência doméstica na condição de pandemia. Pior: 35% das mulheres acham que ela às vezes é justificada (Nelson Rodrigues e vários seguidores contemporâneos na mídia acham que mulher gosta de apanhar, se não gosta é por ser neurótica). Quase 80% das mulheres angolanas já sofreram algum tipo de violência em decorrência da condição feminina.
No universo de 108 países pesquisados, apenas um em cada cinco parlamentares eleitos são mulheres. Há um modelo institucional, cultural e simbólico que perpetua a discriminação, a opressão e a violência contra as mulheres.
Na América Latina, a participação política das mulheres é de 23%, mas o Brasil está abaixo da média com 10%.
Já temos “presidentas”. Mas ainda falta muito para aumentar as oportunidades, direitos e expressão política das mulheres no mundo.