Apesar de já ter mais de uma década que o Ministério da Saúde e o Inca (Instituto Nacional do Câncer) deixaram de indicar o autoexame como método de rastreamento do câncer de mama, ainda hoje é comum nos depararmos com a recomendação de que apalpar os seios e a região da axila em um certo momento do mês é importante para descobrir precocemente um tumor. Mas não é. Entenda as razões disso a seguir.
O autoexame detecta o câncer em estágio avançado
Na maioria dos casos, ao apalpar os seios é muito difícil realizar um diagnóstico precoce. Isto é: identificar pequenos caroços (com cerca de 1 cm) ou que ainda estejam restritos ao ducto mamário –estrutura que carrega o leite durante a amamentação. Nesse estágio inicial, a chance de “cura” é aumentada em 95%.
Com o autoexame, geralmente a mulher só encontra tumores com mais de 2 cm, o que significa que o câncer já pode estar em um nível avançado. Por isso, a recomendação do Inca é que “a mulher continue apalpando os seios sempre que se sentir confortável para tal –seja no banho, seja no momento da troca de roupa, seja em outra situação do cotidiano”, sem se preocupar com técnica ou momento do mês específico. Além disso, nunca deixe de tomar outros cuidados preventivos e visitar o ginecologista regularmente –que pode fazer a apalpação adequada ou solicitar exames de imagem, quando necessário.
“Apalpar os seios em casa é indicado apenas como uma forma da pessoa conhecer seu próprio corpo e procurar um especialista se encontrar algo diferente. Não é considerado um exame preventivo. Quando falamos em prevenção, devemos enfatizar os hábitos saudáveis [não fumar e beber], dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle de peso“, esclarece Paula Saab, mastologista e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
O autoexame pode desestimular outras avaliações
De acordo com o Inca, somente 35% das mulheres com câncer de mama identificaram o tumor com o autoexame. E o problema é que, ao fazer a apalpação e não encontrar nada, a pessoa pode acreditar que não tem problema algum e deixar de fazer avaliações de rotina que detectariam a doença precocemente.
Um estudo da SBM em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia revela que em 2017 era esperado que 11,5 milhões de mamografias fossem realizadas em mulheres com idade entre 50 e 69 anos atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mas apenas 2,7 milhões de exames foram feitos –uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Enquanto no autoexame é difícil identificar um tumor em estágio inicial, na mamografia é possível encontrar esses pequenos nódulos irregulares e diminuir o número de mortes relacionadas ao problema“, acrescenta Solange Carvalho, cirurgiã oncologista do departamento de mastologia do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
Quando começar a fazer a mamografia?
De forma geral, a recomendação é que todas as mulheres visitem o ginecologista ao menos uma vez por ano. Além disso, quem possui baixo risco de desenvolver câncer de mama deve realizar a mamografia regularmente a partir dos 40 anos.
Já as que fazem parte do grupo de risco moderado ou elevado –devido a fatores genéticos, histórico de alterações benignas e hábitos como consumo excessivo de álcool, tabagismo e sedentarismo — devem iniciar a rotina de exames mais cedo, conforme orientação do especialista, segundo Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e membro titular do núcleo de mastologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
E se eu achar algo com o autoexame?
Apesar de com a apalpação geralmente só ser possível encontrar tumores em estágio um pouco avançado, se você identificar qualquer coisa diferente, mantenha a calma e busque ajuda médica. Saiba que alterações na mama não significam exatamente um câncer. “Podem ser apenas nódulos benignos que, claro, deverão ser acompanhados pelo médico da paciente”, finaliza Carvalho.
Fonte: UOL