Como as mulheres podem ajudar populações e comunidades a lidar melhor com os impactos, prejuízos e novas realidades trazidas pelas mudanças climáticas?
Este foi o mote da discussão realizada em Rio Branco (AC), durante a oficina “Gênero, Florestas e Mudanças Climáticas”, promovida pelo Governo do Estado do Acre, junto a várias instituições – entre elas, o WWF-Brasil, por meio de seu Programa Amazônia.
A oficina contou com o apoio técnico do grupo ‘Gênero, Desenvolvimento e Mudanças Climáticas’ da Universidade da Flórida (EUA) e foi coordenado pelas especialistas Marianne Schmink, Denyse Mello e Wendy Bartels.
Durante três dias, mais de 50 produtoras rurais, extrativistas, indígenas e representantes de associações e organizações da sociedade civil participaram de oficinas sobre o Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais do Acre (Sisa), que promove compensações financeiras às populações tradicionais.
Por meio da exploração responsável dos recursos naturais, o Sistema ajuda não só a conservar as florestas, mas também a reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o desmatamento dentro das propriedades rurais.
Papel fundamental
Para a diretora técnica do Instituto de Mudanças Climáticas do Governo do Acre (IMC), Vera Reis, as trabalhadoras desempenham um papel fundamental no controle do desmatamento.
“Para nós, o importante é que essas mulheres mostraram preocupação e boa vontade em serem aliadas do Governo do Estado na promoção de uma política de baixo carbono”, disse.
Maria Renilda Santana foi uma das participantes do evento. Ela é presidente da Associação Agroextrativista da Reserva Extrativista do Rio Liberdade, do município de Cruzeiro do Sul, que fica a cerca de 640 quilômetros de Rio Branco.
Para ela, a oficina foi importante por ter conseguido entender o que é o Sisa e sua importância: “A gente estava sendo contemplada, mas não entendia direito de onde vinha esse investimento. A gente não imaginava de que forma o Sisa funcionava, então a oficina foi importante por isso”, afirmou.
Estratégia global
O coordenador-adjunto do Programa Amazônia do WWF-Brasil, Ricardo Mello, contou que o Governo do Acre inova ao contemplar o ‘olhar de gênero’ em suas estratégias. “Queremos discutir também repartição de benefícios, consolidação de territórios e desmatamento líquido zero; e, para isso, é importante que as mulheres conheçam esses temas e saibam qual é a importância deles”, declarou.
Esta discussão repercute, a nível local, uma estratégia que já vem sendo adotada internacionalmente – a de envolver, cada vez mais, as mulheres nas discussões relacionadas às Mudanças Climáticas.
Já se sabe que elas são as maiores vítimas dos impactos e prejuízos trazidos por este fenômeno, como o aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos, a elevação do nível do mar, as mudanças nos ecossistemas, a desertificação, a alteração na disponibilidade de água e as mudanças na agricultura, que afetam empresas e prejudicam famílias por todo o globo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) vem se posicionando, desde a Conferência do Clima de Cancún, em 2010, pelo envolvimento das mulheres neste debate – alegando que a questão de gênero modifica profundamente a implementação de políticas públicas, mas também muda, para melhor, os efeitos dos projetos e ações sobre este tema.
A ONU afirma ainda que 70% dos cidadãos em situação de pobreza do mundo inteiro são mulheres e que elas representam 80% dos trabalhadores rurais de África e Ásia – regiões hoje muito vulneráveis a eventos climáticos extremos. Daí a importância de se promover este tipo de discussão.
Protegendo Florestas
A discussão sobre gênero e mudanças climáticas é parte do projetoProtegendo Florestas – uma parceria do WWF-Brasil, do Governo do Acre, da rede de televisão britânica Sky e do WWF Reino Unido.
O objetivo do projeto é garantir a conservação de 164 mil quilômetros quadrados de floresta no Estado – além de manter um bilhão de árvores em pé naquele território.
Foto/Foto: WWF Brasil