A luta pelos direitos das mulheres atravessa séculos e, talvez por isso, existam tantos estereótipos relacionados ao feminismo e às feministas. Elas não se depilam? Odeiam homens? São todas lésbicas? Perguntas que parecem absurdas para muitos, mas que, infelizmente, representam as dúvidas e os preconceitos de muita gente.
Em entrevista ao site UOL, o jogador de futebol Robinho, condenado em primeira instância na Itália pelo estupro coletivo de uma mulher albanesa, ao comentar a suspensão de seu contrato com o Santos por pressão de patrocinadores e dos movimentos de mulheres, deixou seu preconceito transparente:
“Infelizmente, tem esse movimento feminista…Muitas mulhres, às vezes nem são mulheres para falar o português claro”, disse o jogador.
Não faz muito tempo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usou a tribuna da Câmara dos Deputados para endossar insultos de cunho sexual feitos pelo pai à jornalista Patrícia Campos Mello, chamando as parlamentares que protestaram contra Jair Bolsonaro de “corja” e pediu que elas raspassem “o sovaco, se não dá um mau cheiro do caramba”. A hashtag #RaspemoSovaco virou Trending Topic no Twitter Brasil, mas logo teve resposta: mulheres se uniram e fizeram #LavemoPinto viralizar ainda mais.
Para falar o português, claro, a equipe de Celina cumpre com o papel de avisar ao Robinho que o movimento feminista foi criado há bem mais de um século por mulheres. Atualmente, ele vive a sua quarta onda impulsionado pela força das mulheres.
Sugerimos ao Robinho ler com atenção os pontos 6 e 7 abaixo, mas, se possível ler todo o texto onde explicamos (pré) conceitos relacionados ao feminismo e às feministas que são, na verdade, mentiras.
1. Feministas não se depilam
O movimento feminista defende que as mulheres tenham liberdade sobre seu próprio corpo, ou seja, que elas possam fazer escolhas. A depilação é um padrão estético reforçado pela sociedade e encarado como normal na vida de uma mulher. Por isso, quem opta por não se depilar é encarada como fora do padrão. As feministas defendem que as mulheres sejam livres para escolher se querem se depilar ou não, e que elas não tenham que fazê-lo por uma obrigação social. Em outras palavras, feministas se depilam se quiserem. Caso não queiram, está tudo bem.
2. Feministas são de esquerda
Não necessariamente. Mulheres politicamente alinhadas com a direita ou com a esquerda podem ser feministas, se desejam a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Existe uma vertente do feminismo que é o feminismo liberal, associada ao pensamento político-econômico do Liberalismo. O feminismo liberal prioriza a inclusão e a participação de mulheres em empresas e na política, defendendo pautas como a equidade salarial entre homens e mulheres e priorizando uma perspectiva individual com ênfase no fator econômico. Ou seja, é possível ser feminista de direita ou de centro.
3. Feministas odeiam homens
O feminismo defende a condição de igualdade entre homens e mulheres na sociedade e o direito de decidirem sobre sua vida tanto individualmente quanto no âmbito político e coletivo. O que deve ser combatido é o sistema patriarcal que coloca o homem em situação de superioridade em relação a mulher, seja por justificativas biológicas ou pelos papéis de gênero que cada um assume na sociedade. Assim, elas não odeiam os homens; apenas são contra o sistema que os coloca como seres superiores. Feministas lutam contra a situação de opressão que rotula as mulheres de “sexo frágil”.
Dizer que feministas odeiam homens é uma bobagem. Afinal, há muitos homens que são aliados do feminismo. Não dá para odiá-los.
4. Feministas defendem o aborto
Mentira. Uma das principais bandeiras do feminismo é o direito da mulher de decidir sobre sua própria vida e seu corpo. A questão do aborto seria um exemplo disso, já que diz respeito a uma gravidez indesejada que será gerada no útero de uma mulher, e, portanto, diz respeito ao corpo dela. Feministas não defendem que todas as mulheres sejam obrigadas a abortar nem que o aborto seja feito em larga escala. Elas defendem que ele seja uma opção para as mulheres. Isso não significa que uma mulher que defenda o aborto esteja disposta a fazer um. É possível ser feminista, defender o direito ao aborto como escolha e não querer abortar.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 47 mil mulheres morrem por ano em todo o mundo em decorrência de abortos inseguros. Um relatório produzido pelo Ministério da Saúde e entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta que em dez anos o SUS gastou 486 milhões de reais com internações para tratar de complicações relacionadas a abortos. Além disso, entre 2000 e 2016, pelo menos 4.455 mulheres morreram por este motivo. No Brasil, o aborto é permitido em três ocasiões: em caso de estupro; quando a gravidez causa risco de vida para a mãe ou quando o feto é anencéfalo.
5. Feminismo é o contrário de machismo
Falso. Machismo é um comportamento que subjuga a mulher, que a coloca como inferior ao homem. Feminismo é um movimento social que luta por igualdade entre homens e mulheres. Para o feminismo, nem homem nem mulher são superiores. Eles devem estar em condição de igualdade social. Simples, não é mesmo?
6. Feministas não são femininas
Mais uma vez: feminismo tem a ver com liberdade de escolhas. A sociedade associa certo tipo de comportamento e de vestimentas à feminilidade. Se a mulher quiser seguir essas regras, ótimo. Se ela não quiser, ótimo também. A mulher é livre para fazer o que quiser. Saiba, portanto, que feministas usam saia, mas calça também. Elas podem ter cabelo comprido ou curto. Podem ter voz fina ou grossa. Podem ser quem quiserem.
Aliás e a propósito: a mineira Julia Horta, atual Miss Brasil, símbolo de feminilidade, se declara feminista.
7. Feministas são lésbicas
Há quem afirme que as feministas são todas lésbicas. Há também que chame uma feminista de “mulher-macho”. Posicionamento político e orientação sexual são coisas totalmente diferentes. O feminismo é o posicionamento político daquelas que defendem a igualdade entre homens e mulheres. Ser lésbica é apenas uma entre as orientações sexuais que uma mulher pode ter — e isso diz respeito somente a ela. Existem feministas lésbicas? Sim. Mas também existem feministas hétero, trans…
Sobre chamar uma feminista de “mulher-macho”: é apenas falta de educação mesmo.
8. Feminismo é ‘mimimi’
Feminismo é assunto sério. É graças a ele que as mulheres têm reduzido, ano a ano, as desigualdades de gênero. A conquista do direito ao voto, do direito ao trabalho, a independência econômica, a participação política, o divórcio e a guarda dos filhos: tudo isso é fruto da luta feminista. Ou vocês achavam que as cadeiras de deputada no Congresso caíram do céu?
O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2017, o país registrou mais de 60 mil estupros. A polícia estima que apenas 10% desse tipo de crime seja comunicado às autoridades. Ou seja, os números reais são bem maiores. Uma das bandeiras mais importantes do feminismo é o fim da violência contra a mulher. Entendem por que não se trata de mimimi?
Fonte: Celina O Globo
Celina está no Instagram. Para seguir, clique aqui