
Cesárea ou parto normal? Pesquisadores dizem que número ideal de cesáreas é 19% e não 10% dos nascimentos (Foto: Thinkstock)
Um novo estudo sugere que a taxa de cesáreas deve ser maior do que a estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS considera ideal que 10% dos nascimentos sejam por cirurgia cesariana. A nova pesquisa, publicada hoje no Jornal da Asssociação Médica Americana (Jama), por pesquisadores das universidades Harvard e Stanford, nos Estados Unidos, estabelece como taxa adequada 19%. “Observamos redução da mortalidade tanto para as mães quanto para os bebês com aumento das taxas até 19%”, diz o cirurgião-geral Thomas Weiser, pesquisador da Universidade Stanford e um dos autores do estudo. “Para taxas maiores de 19%, não observamos quaisquer reduções.” Esse é o caso do Brasil, considerado o campeão mundial na realização de césareas, segundo ranking da OMS: 55% dos nascimentos acontecem por vias cirúrgicas.
O índice de cesáreas é usado como um dos parâmetros de qualidade de saúde materno-infantil. Atualmente, números abaixo de 10% são um indício de que mulheres que precisam de césareas por indicações médicas não teriam acesso ao procedimento, colocando em risco a vida da mãe e do bebê. Números maiores indicam mau uso da intervenção, que oferece mais riscos do que o parto normal. O bebê pode estar imaturo e ter complicações respiratórias. A possibilidade de morte materna é multiplicada por 3,7 em razão de intercorrências como hemorragias e infecções.
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Mesmo que o novo critério sugerido pelos pesquisadores americanos seja adotado, o Brasil ainda estaria acima da média considerada adequada. Nos hospitais privados, mais de 80% dos partos são cesáreos. No ano passado, o Ministério da Saúde lançou uma série de ações para diminuir o que chamou de “epidemia” de cesáreas. O treinamento de médicos para realizar parto normal foi reforçado e os planos de saúde foram obrigados a adotar medidas que incentivam o parto normal, como exigir justificativa dos médicos para pagar pelas cesáreas realizadas.
“É possível alcançar algo em torno de 30% a 40% com estruturação adequada dos serviços em prazo relativamente curto”, afirma o obstetra Etelvino de Souza Trindade, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Para Trindade, faz sentido aumentar a taxa de césareas considerada como ideal porque as mulheres estão se tornando mãe mais tarde, o que aumentaria os riscos durante a gravidez. “As mulheres estão engravidando em idades não muito boas para ter filhos. Os extremos da vida reprodutiva, em muitos casos, caem em cesariana”, diz Trindade.
Em abril, a OMS reforçou que taxas maiores do que 10% não estão associadas à diminuição do número de mortes de mães e bebês. A recomendação tornou ainda mais rigoroso o parâmetro adotado pela entidade desde 1985, que considerava como adequado até 15% de partos cesáreos. O valor foi estipulado, à época, a partir da avaliação de poucos dados disponíveis, referentes principalmente a países do norte da Europa.
O novo estudo não altera a taxa determinada pela OMS, mas pode ser um dos fatores a influenciar na construção de um novo consenso. Mais importante do que a mudança numérica, dizem os autores do estudo, são as melhorias no sistema de saúde para garantir mais acesso aos cuidados pré-natais e informações para médicos e gestantes optarem pelo melhor procedimento, em cada caso, para o nascimento do bebê. “Simplesmente aumentar as taxas de cesárea sem melhorias no sistema de saúde não resultará necessariamente em menor mortalidade”, diz Weiser.
Fonte: Época