Compensação por meio de pontos a mais em disputas por vagas em concursos ou análise de currículos que considera anos de maternidade são iniciativas
Universidades e outras instituições do País têm criado políticas para tentar compensar o chamado efeito tesoura na vida acadêmica das mulheres e, especialmente, das que são mães. Estudos mostram que elas são muitas – e até mais que a metade em algumas áreas na graduação –, mas diminuem drasticamente em cargos altos da carreira. Entre os empecilhos estão a maternidade, o assédio e a discriminação explícita e implícita de gênero na academia.
“A gente já começa sendo desacreditada desde que entra na faculdade”, diz a bióloga especializada em herpetologia (estudo de répteis e anfíbios) Daniella França, de 34 anos. A formação exige muitas atividades em campo, como fazer armadilhas, carregar peso no meio do mato e pegar cobras. Ela conta que foi preterida por professores que acreditavam que ela não seria capaz por ser mulher. “E quando você consegue, te chamam de mulher macho.”
Daniella afirma ainda que já sofreu assédio sexual de um colega em um acampamento de trabalho, além das inúmeras brincadeiras de mau gosto sobre cobras. Mãe de dois filhos e pós doutoranda no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), diz que “o que atrapalha não é a maternidade e, sim, a falta de apoio”. Ela já levou seu então bebê de 7 meses para uma expedição em Alagoas em busca de uma jararaca rara. Mas perdeu trabalhos em outros Estados e a chance de fazer parte do doutorado fora do País pela impossibilidade de deixar as crianças e a falta de ajuda financeira para levá-las.
Fonte: Agência Patrícia Galvão