A poetisa estadunidense Louise Glück foi a décima sexta mulher a ser premiada com o Nobel de Literatura na história. A vencedora do Nobel de Literatura 2020 tem um extenso trabalho literário que é altamente consolidado nos EUA, entretanto, no Brasil, muita gente (como nós aqui no Hypeness) não conhecia o trabalho de Louise. Não há obras da poetisa traduzidas para o português.
Louise estreou no mundo da literatura nos anos 60 e abandonou a formação universitária em Columbia, um dos principais centros acadêmicos dos EUA, para se tornar um dos principais nomes da literatura no país. Após passar quase 20 anos no círculo da literatura, foi sua obra ‘O Trinfo de Aquiles’, de 1985, que a elevou para o panteão dos grandes poetas estadunidenses.
Em 2015, o Barack Obama agraciou Louise Glück com a Medalha Nacional das Artes, maior honraria do EUA aos artistas de seu país.
Foi a sua coleção de poemas ‘Poems: 1962–2012’, de 2012, que a colocou no radar para ganhar o Nobel de literatura. Há anos seu nome era especulado em casas de aposta e no circuito especializado, mas sua consolidação veio em 2020, ano em que Louise Glück completou 77 anos de idade.
A influência da psicanálise na obra de Glück é essencial. As temáticas abordadas em seu poemas são majoritariamente do sofrimento; a autora explora trauma, desejo e a natureza, sob o apoio de referências modernas e pós-modernas cruzadas com temas mitológicos e narrativas clássicas.
Entre suas influências, constam Léonie Adams, Stanley Kunit, Robert Lowell, Rainer Maria Rilke e Emily Dickinson.
Apesar não ter sido editada em português, diversos sites publicaram poemas traduzidos de Louise Glücke. Selecionamos três para você dar uma lida:
A íris selvagem
No final do meu sofrimento
havia uma saída.
Me ouça bem: aquilo que você chama de morte
eu me recordo.
Mais acima, ruídos, ramos de um pinheiro se movendo.
Então, nada. O sol fraco
cintilando sobre a superfície seca.
É terrível sobreviver
como consciência,
enterrada na terra escura.
Então tudo acabou: aquilo que você teme,
se tornando
uma alma e incapaz
de falar, encerrando abruptamente, a terra dura
se inclinando um pouco. E o que pensei serem
pássaros lançando-se em arbustos baixos.
da passagem de outro mundo
eu te digo poderia repetir: aquilo que
retorna do esquecimento retorna
para encontrar uma voz:
do centro de minha vida veio
uma vasta fonte, azul profundo
sombras na água do mar azul.
Traduzido pela desenhista, pintora e tradutora Camila Assad, para o G1.
Gratidão
Não pense que não sou grata por tuas pequenas
gentilezas.
Gosto de pequenas gentilezas.
De fato as prefiro à gentileza mais
substancial, que está sempre a te cravar os olhos,
feito um grande animal sobre o tapete,
até que tua vida inteira se reduza
a nada além de levantar manhã após manhã
embotada, e o sol luminoso rebrilhando em seus caninos.
O lírio prateado
As noites ficaram frias de novo, como as noites
de começo de primavera, e quietas de novo. Será
que a conversa te incomoda? Estamos
sozinhos agora; não temos razão para silêncio.
Vês, sobre o jardim — a lua cheia nasce.
Não verei a próxima lua cheia.
Na primavera, quando a lua nascia, significava
que o tempo era infinito. Anêmonas
abriam e fechavam, as sementes
em cachos caíam dos bordos em pálidas lufadas.
Branco sobre branco, a lua nascia sobre o vidoeiro.
E no arco em que a árvore se divide,
folhas dos primeiros narcisos, ao luar
prata-verde-claras.
Juntos, chegamos perto demais do fim para agora
temermos o fim. Nessas noites, não estou nem mesmo certa
de que sei o que significa o fim. E tu, que estiveste
com um homem —
depois dos primeiros gritos,
não faz a alegria, como o medo, barulho algum?
Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins, no Jornal Opção
Fonte: Hypeness