Do clássico ao rock, elas são minoria entre os instrumentistas. Os impedimentos vão de falta de autoestima a falta de visibilidade
“Mulheres não sabem nada sobre rock”. Esta frase não é tão difícil de se ouvir. E muitas roqueiras, a despeito de suas competências musicais, se depararam com ela. A questão é visível: apesar dos avanços, há menos mulheres sobre os palcos, empunhando instrumentos musicais, do que homens, e o fato vale para qualquer gênero da música. A diferença é mais um reflexo da desigualdade histórica de gêneros que atinge diversas áreas.
Os problemas, apontam alguns estudos, começam cedo, quando garotas se veem em meio ao paradoxo entre o estereótipo maternal e o de artista inconformista.
“Como mulher, parece que você precisa perder sua feminilidade e se tornar um dos garotos, e eu mais de uma vez me perguntei se estava perdendo minha identidade e me conformando com a mentalidade masculina da indústria”, escreveu a produtora musical Rosina Ncube ao site “Sound and Sound”. “Mesmo que não me comporte como menina, sou feminina e algumas vezes senti que deveria ser menos, para que o dever fosse cumprido.”
Entre os vários obstáculos levantados está a resistência de homens mais velhos, que ocupam as posições de poder na indústria cultural, em mudar o cenário e, talvez o maior de todos eles, a falta de autoconfiançade mulheres talentosas.
Porcentagem de mulheres em orquestras, em 2012
40%
Nos Estados Unidos
29%
No Reino Unido
28%
Orquestra Estatal de Dresden
36%
Orquestra Nacional da Rússia
7%
Ópera Estatal de Viena
“Não é apenas sobre o número de músicos, mas também sobre exposição”, escreveu o jornal inglês “The Guardian”. Embora 20% dos compositores de música clássica do Reino Unido sejam mulheres, por exemplo, a porcentagem não é refletida em grandes festivais e premiações. “Não entendemos bem porque há tão poucas mulheres na ponta criativa das coisas”, manifestou o sindicato de produtores musicais do país, o Music Producers Guild, ao jornal.
“Talvez, um motivo pelo qual poucas mulheres conquistaram a fama é porque críticos não estão escrevendo sobre elas”, diz um trecho do artigo “Por que há tão poucas? (mulheres criativas: artes visuais, matemáticas, cientistas, músicas)”. O trabalho reúne estudos sobre a representatividade feminina nas mais diversas áreas.
Bater com força
“À medida que fui subindo, do conservatório ao mestrado, tive a sensação de ver cada vez menos mulheres na carreira”, diz a percussionista Catarina Percinio.
Segundo ela, os pequenos atos de desmotivação para mulheres seguirem na profissão aparecem no dia a dia, “quando as pessoas se surpreendem ao ver que você toca bem, ou apenas, que toca”. “Eu tenho essa musculatura, por que não poderia tocar forte?”, questiona. “É um problema de ordem independente da profissão, na verdade. É do fato da sua imagem como mulher vir antes da imagem profissional”.
Percinio lembra como exemplo uma audição que fez para participar de uma banda. Após ser rejeitada, soube por um amigo que um dos avaliadores lamentou a perda, “pois precisavam de mulheres bonitas no grupo”.
Atualmente, Percinio é professora em um instituto federal em Goiás. “Faço um trabalho de fortalecimento com as meninas que estudam percussão, para que não achem que o trabalho de qualquer homem é mais valioso que o delas. Mesmo assim, vemos meninas largando os estudos para casar.”
Fonte: Nexo