A funcionária pública transexual Maria Clara de Sena, de 37 anos, é uma das três finalistas da categoria políticas públicas do tradicional prêmio da revista Claudia 2016 – que visa “valorizar histórias memoráveis de mulheres excepcionais e atuantes na sociedade brasileira”.
Além de ser a única mulher transexual a concorrer, ela também é a única mulher transexual no mundo no cargo de Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura. E é destaque na luta pelos direitos humanos LGBTs em Recife.
Na votação, Maria Clara disputa o prêmio ao lado de Heloísa Helena de Oliveira, monitora que argumenta com políticos para alterar projetos de lei que não favorecem jovens no Brasil. E Paula Johns, fundadora da Aliança de Controle do Tabagismo + Saúde.
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A HISTÓRIA
Maria Clara tem história de luta, preconceito e superação que se assemelha a muitas travestis e mulheres transexuais do Brasil. E a violência começou cedo, aos sete anos, quando levou uma surra do pai ao ser flagrada em gestos delicados. Episódio que sublimou a mulher que sempre foi por muitos anos.
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Aos 19 anos, conheceu uma travesti e a ficha de que sempre se identificou com o gênero feminino ficou mais forte. Escolheu o nome Maria Clara, iniciou o processo transexualizador e recebeu uma proposta de emprego em João Pessoa. Mas era cilada e ela acabou sendo profissional do sexo.
Descobriu o descaso da sociedade e do poder público. Acabou tomando hormônios femininos sem orientação médica, a cirurgias em clínicas clandestinas e a se envolver com drogas. “Eu estava no fundo do poço quando voltei para Recife e amigos me falaram sobre o Grupo de Trabalhos em Prevenção (GTP), que auxilia profissionais do sexo”, diz.
Por meio da ong, livrou-se das drogas e se alinhou aos temas de direitos humanos. Descobriu, por exemplo, um problema em comum com a população que tinha contato: quase todos eram presos. E idealizou ao lado de colegas o projeto Fortalecer para Superar Preconceitos, atuando dentro dos presídios.
Depois de ouvir as travestis detentas, Maria Clara pleiteou e conseguiu uma ala exclusiva para elas, onde ficariam livres da exploração sexual praticada pelos homens. Candidatou-se também a uma vaga no Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, órgão do estado pernambucano cuja criação segue uma recomendação das Nações Unidas.
Ainda cursando a faculdade de serviço social, foi aprovada e tornou-se a única mulher transexual em um cargo como esse no mundo. Desde 2014, verifica as condições de locais onde os maus-tratos são comuns, como presídios, asilos, delegacias e clínicas de reabilitação para dependentes químicos.
Durante uma visita, foi coagida e ameaçada de morte por um policial. Por causa disso, está no programa de proteção a testemunhas.
Fonte: Nlucon