Quando está “naqueles dias”, em vez de andar com uma nécessaire cheia de absorventes, a publicitária Carolina Marçal, 34, carrega uma garrafa de água na bolsa. Há dois anos, ela trocou os absorventes tradicionais por um coletor menstrual, um copinho de plástico flexível com cerca de 4 cm de diâmetro.
Inserido no canal vaginal, o coletor armazena o sangue menstrual por no máximo 12 horas, segundo os fabricantes. Ao ficar cheio, deve ser retirado e lavado (por isso a garrafa de água) antes de ser colocado novamente.
“Tenho muitas amigas que morrem de nojo, eu nunca tive. Para o coletor ficar na posição certinha tem que colocar a mão lá. Suja o dedo, mas é o meu sangue, sinal de que sou fértil e saudável”, diz.
Carolina faz parte de um grupo crescente de mulheres que além de usuárias se tornaram ativistas dos coletores menstruais. No Facebook, a comunidade “Coletores Brasil” já reúne mais de 13 mil mulheres. Há seis meses, era menos da metade disso.
As bandeiras do movimento são muitas, a começar pela ambiental: ao contrário dos absorventes, os coletores são reutilizáveis e podem durar até dez anos. Também há aquelas que defendem o uso do coletor como uma estratégia de autoconhecimento.
“Foi uma transformação, eu descobri meu ciclo, percebi que a menstruação não tem cheiro. Nas propagandas dos absorventes, o que você mais escuta é ‘elimine os odores'”, diz a terapeuta Juliana Vergueiro, 31, adepta dos coletores há sete anos.
A estudante Mayra Albuquerque, 31, começou a usar neste mês e diz que já está promovendo a revolução do copinho entre as amigas.
“Estou apaixonada. A terrível menstruação se transformou num ritual lindo. Estou parecendo aquelas meninas hippies que veem o sangue menstrual como algo sagrado”, afirma.
Ativismo à parte, o mercado de coletores sente os reflexos da popularização. No último ano, as vendas do fabricante nacional Inciclo aumentaram 938%. Hoje o coletor (R$ 79) pode ser encontrado em todo o país.
“Estamos espantados. As vendas explodiram. A médio e longo prazo acho que todas as mulheres vão usar coletor, porque só tem pontos positivos”, diz Mariana Betioli, 35, proprietária da Inciclo.
ADAPTAÇÃO
Não é bem assim. Muitas mulheres têm dificuldades para se adaptar ao coletor e achar a melhor posição de uso.
“Foi desconfortável porque eu não sabia se estava na posição certa. E depois eu não conseguia tirar mais. Pesquisei, tentei arrancar de vários jeitos e só consegui tirar agachada”, conta a estudante Ingrid Brandão, 26, que agora se diz bem adaptada ao copinho.
Quando inserido corretamente, o coletor se desdobra dentro da mulher e adere ao canal vaginal. Para tirar, é preciso apertar um pouco antes de puxar, do contrário a sucção criada não o deixa sair e pode até machucar.
Bárbara Murayama, coordenadora da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, diz que o coletor é um método complementar e que não deve substituir totalmente o absorvente. Para ela, tirar e colocar o coletor, pelo menos em casa, deve ser fácil.
“Se for difícil é porque tem algo errado e é melhor procurar um médico. Não é preciso forçar nem deve doer. Se estiver bem colocado, a mulher não vai sentir o coletor”, diz. O produto é contraindicado para mulheres no pós-parto.
“Não há estudos mostrando que o uso prolongado [12 horas seguidas] é seguro. O sangue menstrual é um meio de cultura de bactérias e a vagina também. Pode-se criar uma situação propícia para o surgimento de infecções”, afirma o ginecologista Newton Busso. Para ele, o coletor deve ser esvaziado a cada duas a quatro horas.
Para Alessanda Bedin, ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, alérgicas ao látex não devem usar o coletor. Ademais, ela o considera uma alternativa ecológica e que não agride a flora vaginal.
Fonte: Folha de S. Paulo