
(Photo by Cris Faga/LatinContent/Getty Images)
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A pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (21) pelo Datafolha em que afirma que um terço dos brasileiros culpa a mulher pelo estupro sofrido resgata o debate sobre acultura do estupro no Brasil e as formas de combate à violência contra a mulher. Para a fundadora do coletivo feminista Think Olga, Juliana de Faria, os dados são preocupantes, mas trazem um debate extremamente necessário para enfrentar o problema.
“As pessoas estão debatendo mais sobre isso. É triste, é horrível, mas não pode ser ignorado”, diz a ativista.
A pesquisa aponta que um em cada três brasileiros concorda com a afirmação de que“a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. Revela também que 85% das mulheres têm medo de serem estupradas. O índice sobe a 90% no Nordeste.
“É horrível saber destes números. Mas eles são necessários para que a gente possa caminhar.”
Segundo Juliana, outro dado comprova que a cultura do estupro está tão enraizada na sociedade: a porcentagem das mulheres que afirmaram que as vítimas são estupradas por causa de suas roupas é a mesma dos homens. “Todos nós nascemos na sociedade que tem essa visão. Desde muito cedo a gente absorve essa ideia construída de que a mulher tem que se comportar, que ela precisa ter tais características para conseguir seu ‘príncipe’ e ser respeitada”, conta.
“A gente quer acreditar que metade da população vai entender e defender mulheres vítimas de violência, mas não. E isso é muito violento — a própria mulher culpar uma vítima de estupro. Isso mostra que não só sofremos a violência no ato, mas depois, através de julgamentos.”
Isso explica, em parte, porque muitas vítimas não denunciam uma agressão. De acordo com dados oficiais, uma mulher é violentada a cada 11 minutos no Brasil, totalizando cerca de 50 mil crimes do tipo por ano. Porém, estimativas mostram que são registradas apenas 10% destas agressões, o que sugere que o País oculta até 500 mil estupros por ano.
“Se existe a cultura de culpabilização da vítima, na qual até parentes e amigos vão me julgar, por que vou denunciar? Provavelmente essa mulher [violentada]já esteja se julgando, como ‘por que fui naquele bar?’ ou ‘por que eu estava de batom vermelho’. Não é só o estupro. A vítima vai sofrer depois com julgamentos dela e de toda a sociedade.”
Além do julgamento, Juliana cita outros fatores que pesam na hora de denunciar um agressor. “Grande parte da violência sexual não é cometida por monstros sem rostos nas ruas. A maioria dos crimes sexuais é cometida por pessoas que as vítimas conhecem, na família ou no círculo social”.
Ela lembrou do movimento #MeuPrimeiroAssédio, em que mulheres compartilharam nas redes sociais a primeira vez que sofreram assédio. “Você via que muitas eram assediadas pelo marido da tia, pelo novo namorado da mãe. Como trazer essa história no cenário da culpabilização?”
Dento desta discussão, Juliana aponta o feminismo e a educação como primeiros passos para combater a violência contra as mulheres. “O feminismo é um movimento que tenta trazer educação e conscientização sobre temas naturalizados na sociedade. É preciso falar sobre o estupro, sobre o consentimento. O que é certo e o que não é”, diz.
“A cultura do estupro existe, seja um cara que passou a mão na mulher no metrô ou a mídia que reforça a sexualização e objetificação da mulher. Temos que discutir a questão do consentimento, que ainda é um tema obscuro para homens e mulheres. Não é só esse homem na rua, mas também o namorado que força relações sem consentimento com a namorada. As pessoas ainda não entendem essa história de consentimento.”
Ela vê que as pessoas estão debatendo mais sobre isso nos últimos anos e vê esse movimento como algo positivo. Além de debates e conscientização sobre o tema, Juliana lembra que também é preciso reforçar leis que garantam a punição de agressores e ações que, de fato, protejam a vítima.
Fonte: Brasil Post