Levantamento mostra que, mesmo com mais qualificação e experiência, mulheres ainda enfrentam obstáculos para acessar os espaços de decisão nas empresas.
Um novo estudo do Evermonte Institute, intitulado “Women at the Top”, revelou que apenas 12% das cadeiras em conselhos de administração de companhias abertas no Brasil são ocupadas por mulheres. O índice é ainda menor quando se trata de conselheiras independentes, ou seja, aquelas que não representam famílias controladoras nem fundos de investimento.
O dado confirma um cenário de desigualdade de gênero que persiste nos altos escalões corporativos. E mais: o estudo mostra que as mulheres estão chegando aos conselhos não por conta de uma mudança cultural nas empresas, mas porque vêm se preparando mais do que os homens para ocupar esses espaços.
Mulheres mais qualificadas, mas com menos espaço
Segundo o levantamento, as conselheiras brasileiras possuem em média 49% mais formações acadêmicas e 87% mais certificações que seus colegas homens. Além disso, apresentam trajetórias profissionais marcadas por diversidade de setores, mobilidade entre funções e experiências em ambientes organizacionais complexos.
Mesmo assim, conquistar a primeira cadeira em um conselho ainda é um desafio. Em média, uma conselheira reúne 16 experiências profissionais antes de chegar à posição — um número 14% superior ao dos homens.
De acordo com Helena Schröer, sócia do Evermonte Institute e coordenadora da pesquisa, essa diferença não está ligada ao mérito, mas às barreiras estruturais:
“A formação acadêmica, para as mulheres, cumpre um papel duplo: prepara tecnicamente e, ao mesmo tempo, legitima sua presença nos espaços de poder, onde ainda é preciso provar autoridade”, explica.
As principais barreiras apontadas pela pesquisa:
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Isolamento – É comum haver apenas uma mulher no conselho, o que dificulta trocas e suporte.
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Redes de relacionamento masculinas – Nomeações para os conselhos ainda acontecem majoritariamente por meio de indicações em círculos dominados por homens.
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Leituras enviesadas de comportamento – Atitudes assertivas, vistas como liderança em homens, são frequentemente interpretadas como negativas em mulheres.
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Desigualdade salarial – Os assentos mais bem remunerados seguem concentrados nas mãos masculinas.
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Distância entre discurso e prática – Muitas empresas promovem a diversidade apenas no discurso, sem mudanças reais na composição dos boards.
Metodologia da pesquisa
O estudo foi conduzido com abordagem quantitativa e qualitativa. Foram analisados os perfis de 98 conselheiros (49 homens e 49 mulheres) atuantes em companhias de capital aberto ou organizações de grande porte no Brasil. Além disso, oito conselheiras com ampla experiência em governança corporativa foram entrevistadas para trazer uma visão mais aprofundada da realidade enfrentada:
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Alessandra Dabul (Gávea Angels, Ancham Paraná)
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Ana Paula Zamper (InterPlayers, Espaçolaser, IBEF-SP, Instituto SER+ e SAS Brasil)
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Andrea Mota Baril (Grupo Skala, Grupo CRM e Pravaler)
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Beatriz Amary Faccio (Arco Educação)
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Cecília Andreucci (Grupo Boticário, Guararapes Painéis, IBGC)
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Claudia Lacerda (CantuStore, Aliansce Sonae)
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Daniele Krassuski Fonseca (Futura S.P.A.)
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Janete Anelli (Petrobahia, IBGC)
Um retrato da desigualdade — e da resistência
O levantamento mostra que, apesar das barreiras, as mulheres vêm pavimentando seus caminhos com qualificação, resiliência e competência. Ainda assim, sem mudanças estruturais nas culturas corporativas e nos processos de indicação, a equidade de gênero nos conselhos segue como um desafio de longo prazo.
Fonte: Meio&Mensagem