Vítimas relatam que imagens íntimas foram compartilhadas sem consentimento em grupos pagos. Denúncias chegaram ao MPF e envolvem casos em São Paulo, Rio de Janeiro e até na Itália.
Pelo menos 12 mulheres que frequentam ambientes ligados ao forró — como casas de show, escolas de dança e festivais — denunciaram uma rede de exposição e violência digital que atua através de grupos no Telegram. As denúncias revelam que homens com quem elas se relacionaram registraram imagens íntimas sem autorização e as divulgaram em canais fechados e pagos na plataforma.
A Procuradoria da República em São Paulo solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de inquérito para investigar os responsáveis pelos crimes, que incluem divulgação de conteúdo íntimo sem consentimento (revenge porn), assédio sexual, lesão corporal e ameaça.
Como funcionavam os grupos
Nos canais do Telegram, como os intitulados “Cremosinhas da Putaria” e “Vazadinhas Inéditas”, os homens chamavam as vítimas de “presas” e trocavam fotos e vídeos íntimos delas — frequentemente gravados sem conhecimento ou consentimento. O acesso aos grupos exigia pagamento e o envio de conteúdo adulto, além de dados pessoais das vítimas, como nome, telefone, endereço, locais que frequentavam e até informações consideradas “fragilidades”, como se tinham filhas ou preferências sexuais.
Além da capital paulista, casos foram registrados em Cotia (SP), Rio de Janeiro e até em Turim, na Itália. Segundo relatos obtidos pelo g1, as mulheres conheceram os agressores no ambiente do forró e mantiveram relações consensuais com eles. Foi durante esses encontros privados que as imagens foram registradas indevidamente.
Atuação das atuantes esquerdistas
As denúncias chegaram à Bancada Feminista do PSOL na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e à Câmara Municipal, que encaminharam o caso ao Ministério Público Federal (MPF). Das 12 mulheres que procuraram apoio, sete relataram a divulgação de imagens íntimas sem consentimento e cinco denunciaram casos de assédio e agressões.
Para o coletivo feminista, os grupos funcionavam como instrumentos de caça e humilhação, com o objetivo claro de usar o ambiente cultural do forró como meio para atrair mulheres, envolver-se com elas e posteriormente expô-las publicamente.
Próximos passos
A Polícia Federal irá conduzir a investigação para identificar os autores dos crimes. Alguns dos homens já foram reconhecidos pelas vítimas. O Telegram foi procurado pela imprensa, mas não respondeu até a última atualização da reportagem.
A denúncia escancara o uso da tecnologia para práticas de violência sexual e psicológica, e reforça a urgência de ações efetivas contra crimes digitais de gênero, sobretudo em espaços culturais e de lazer que deveriam ser seguros para todas as pessoas.
Fonte: G1