Entre os dias 2 e 8 de agosto, a capital federal será tomada pela força ancestral e política de cinco mil mulheres indígenas, vindas de cerca de 100 povos de todo o Brasil. Elas participam da 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, um marco histórico organizado pela Anmiga – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, em parceria com o governo federal.
Com o lema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta pela cura da terra”, o encontro propõe não apenas visibilidade, mas a construção concreta de um plano nacional de políticas públicas para mulheres indígenas. A culminância do evento será a 4ª Marcha das Mulheres Indígenas, marcada para o dia 7 de agosto, com concentração às 7h na Funarte e caminhada até a Praça dos Três Poderes.
“Nós queremos construir políticas públicas com nossas mãos, com nossos corpos-territórios. Chega de decisões feitas sem nós”, afirma Jozileia Kaingang, diretora executiva da Anmiga.
Violência estrutural é centro do debate
Entre os temas debatidos na conferência estão educação, saúde, gestão ambiental, direitos territoriais e enfrentamento à violência — este último, segundo Jozileia, deve ser o eixo central.
“A violência que vivemos não é apenas doméstica. É o racismo, é o garimpo, é a exploração dos nossos corpos e da nossa terra. Somos ameaçadas por defender os direitos dos nossos povos”, denuncia.
A dificuldade de acessar os sistemas públicos de proteção e justiça torna a luta das mulheres indígenas ainda mais urgente. Para elas, a violência contra o corpo é também violência contra o território — e vice-versa.
Conferência é fruto da mobilização coletiva
A ideia da conferência surgiu durante a 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, em 2023, e tornou-se realidade por meio de um acordo entre Anmiga e os Ministérios das Mulheres e dos Povos Indígenas. Antes da etapa nacional, foram realizados encontros regionais batizados com nomes de árvores sagradas de cada bioma: castanheira, sapopema, araucária, jurema, mangabeira e sumaúma — um gesto simbólico que conecta a luta política com o saber ancestral.
Atualmente, a Anmiga articula uma rede de 420 mobilizadoras indígenas em todos os biomas do país. A decisão de realizar a conferência em conjunto com a marcha visou ampliar a participação e o impacto político do evento.
Carta será entregue ao Congresso Nacional
Durante a marcha, será entregue ao Congresso a Carta dos Corpos-Territórios em Defesa da Vida, uma denúncia e um chamado por justiça diante de retrocessos legislativos, como o PL do Marco Temporal e o PL 2.159/21, que enfraquece o licenciamento ambiental — texto que aguarda decisão do presidente Lula até o dia 8 de agosto.
“Queremos pôr fim a tudo que é imposto de cima para baixo. Queremos políticas que reflitam nossa forma de viver e cuidar. Para nós, mudar o mundo é também reflorestar mentes”, conclui Jozileia.
Fonte: Brasil de Fato