Por mais que as mulheres estejam conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho ainda falta muito.
Dados coletados pelo Ipea mostram que, em 1970, apenas 18,5% das mulheres eram economicamente ativas. Em 2010, este índice chegou a quase 50%.
No entanto, as mulheres negras e pobres seguem sendo a base da pirâmide do mercado de trabalho — elas não chegam a ganhar 40% do valor da remuneração de um homem branco.
Os número são do estudo “Mulheres e Trabalho: breve análise do período 2004-2014”, publicado pelo Ministério do Trabalho por causa do Dia da Mulher.
Trabalho
Participando ou não da PEA (população economicamente ativa), o fato é que as mulheres possuem mais jornadas de trabalho e são menos valorizadas que os homens, devido ao papel social designado a elas, como argumenta o texto do documento:
O conceito de atividade é excludente e desconsidera o trabalho não remunerado desenvolvido no espaço doméstico de cuidado do próprio domicílio, de filhos, idosos, doentes, como uma atividade que contribui para a produção e reprodução da vida e que gera valor. Exclui-se, portanto, já de imediato, pouco menos de metade das mulheres que, por razões diversas, mas especialmente por conta das responsabilidades domésticas, não conseguem lançar-se ao mercado de trabalho.
Os números confirmam. Enquanto os homens, sejam brancos ou negros, apresentam taxas de atividade da ordem de 80%, as mulheres de ambos os grupos raciais não alcançam 60%. Ou seja, de cada 10 mulheres, 4 não conseguem se colocar disponíveis para uma ocupação no mercado de trabalho. Em 2014, estes números correspondiam a 26,7 milhões de inativas e 9,1 milhões de inativos.
Mulheres inativas
É um montante preocupante, por isso, segundo o estudo, é preciso investigar mais a fundo o perfil dessas mulheres para entender as barreiras que as separam do mercado de trabalho e como as políticas desenvolvidas podem ser efetivas no sentido de reverter essa enorme desigualdade.
A média de idade das mulheres nesta posição é de 52 anos, muito inferior à média de idade masculina, que alcança 64,3 anos. Os homens brancos tornam-se inativos com idade média de 65,7 anos, enquanto as mulheres negras encontram barreiras para participarem do mercado muito mais novas, com média de 49 anos. Os dados indicam que, assim como entre as ocupadas, estas mulheres possuem escolaridade superior à dos homens inativos: 6,4 anos na média para elas e 5,3 anos para eles.
Remuneração
A pesquisa também mostra que há um tímido movimento de aproximação entre os salários dos homens e das mulheres.
Ao longo dos últimos dez anos, o Brasil experimentou um movimento de contínuo crescimento da renda do trabalho. Entre 2004 e 2014, o rendimento médio da população ocupada apresentou um aumento real de quase 50%, passando de pouco mais de R$ 1.000, em 2004 para R$1.595, em 2014. Este crescimento foi maior para mulheres (61%) do que para homens (44%), sendo que o maior aumento foi para as mulheres negras (77%) e o menor para os homens brancos (43%). Houve, portanto, uma redução nas desigualdades salariais entre homens e mulheres e entre negros/as e brancos/as.
Esta aproximação se dá de forma ainda lenta e desigual entre os grupos, e por isso não altera de fato a estrutura das desigualdades: os homens continuam ganhando mais do que as mulheres (R$1.831 contra R$1.288, em 2014), as mulheres negras seguem sendo a base da pirâmide (R$946 reais, em 2014) e homens brancos, o topo (R$2.393 no mesmo ano).
Trabalho doméstico remunerado
O emprego doméstico continua sendo uma importante ocupação das trabalhadoras brasileiras, especialmente das mulheres negras — uma simbólica herança de nosso mal superado passado escravocrata, segundo a pesquisa.
Apesar disso, somente em 2013 foi aprovada a “PEC das Domésticas“, emenda constitucional que ampliou para as trabalhadoras alguns direitos, mas a maior parte deles passou a ter validade somente em 2015.
A proporção de mulheres no emprego doméstico vem caindo lentamente ao longo dos últimos anos. O dado mais recente disponível mostra que, em 2014, 14% das brasileiras ocupadas eram trabalhadoras domésticas, um total de 5,9 milhões. Aqui, a diferença racial é marcante: 17,7% das mulheres negras eram trabalhadoras domésticas, ainda a principal ocupação entre elas –, ao passo que, entre as brancas, 10% estavam no emprego doméstico, que há décadas não constitui o setor de atividade econômica que mais emprega brancas, ficando atrás do comércio e da indústria.
Jornada dupla
O estudo também ressalta outra face desta realidade, a de que cuidar de casa é coisa de mulher.
As diferenças de gênero são tão marcantes neste campo que não importa a condição das mulheres, elas sempre terão maiores taxas de participação e maiores jornadas em “afazeres domésticos”. Ou seja, mesmo as mulheres de mais alta renda, as sem filhos, as chefes de domicílio, todas sempre vivenciarão uma dupla jornada bastante intensa e exaustiva, significativamente superior àquela experimentada pelos homens nas mesmas posições. E, mais interessante e revelador, estas mulheres sempre despenderão mais tempo nestas atividades do que os homens na posição “oposta”. Os números da tabela abaixo permitem compreender melhor esta questão: por exemplo, mulheres ativas gastam cerca de 21,7 horas semanais, enquanto homens inativos gastam inferiores 13,7 horas na semana.
Fonte: Geledés