“Nada pode ser motivo de estupro”, gritaram num coro firme as cerca de 200 participantes da quinta edição da Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, antes de dar início a uma caminhada que cruzou orla de Copacabana na tarde deste sábado. Essa era uma das várias reivindicações que ecoavam da manifestação, que foi marcada também por muitos gritos contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ataques ao político autor do projeto de lei 5069, que dificulta o aborto legal em caso de estupro, estiveram presentes, ainda, em cartazes e frases estampadas nos corpos das manifestantes.
– Cunha é o exemplo do fascismo e dos homens que querem controlar o corpo das mulheres. Mas temos que lembrar que ele é um entre vários que disseminam a mesma ideologia no Congresso – disse a professora Cláudia Machado, uma das organizadoras do evento.
Outra integrante da organização, que não quis se identificar, reforçou o coro contra o político:
– Ele é inimigo das mulheres e das minorias. Tanto a oposição quanto a situação têm se mostrado covardes em agir contra ele. A gente precisa se mobilizar para que eles nos ouçam.
Completamente nua e com as mãos amarradas para trás, a professora de Artes Ludmilla Duarte, de 24 anos, fez uma performance. Em seu corpo havia a imagem de uma mão colada na altura do útero e outra em um dos seios.
– Quero mostrar que existem muitas mãos sobre meu corpo, menos a minha – explicou.
A pauta da marcha era extensa. As militantes falaram sobre os altos índices de estupro que ainda marcam a sociedade brasileira, abordaram a culpabilização que as mulheres sofrem quando são vítimas de ataques e pediram o fim do preconceito contra as transexuais. Como definem as próprias organizadoras, o evento deve servir como um ponto de convergência para todas as reivindicações pertinentes dentro do universo feminino.
– A gente costuma dizer que a marcha é uma encubadora de feministas. Elas vêm até aqui, conhecem pessoas e coletivos, e seguem seus caminhos – comentou Cláudia Machado.
SECUNDARISTAS MARCAM PRESENÇA
Nesta edição, havia uma forte presença de alunas do ensino médio entre as militantes. As integrantes do grupo Maria Só Ria, cuja maioria das integrantes ainda está no colégio, veio Petrópolis para participar.
– Acho muito importante não deixar que os homens nos calem. Nossa faixa etária é muito difícil de ser trabalhada, porque muita gente ainda reproduz a opinião dos pais, em vez de buscar caminhos próprios. E os mais jovens são, muitas vezes, negligenciados pelos movimentos sociais – comentou a estudante Ellen Couto, de 18 anos, que alugou uma van com as amigas.
Muitas alunas do Pedro II também participaram da marcha, usando o tradicional uniforme do colégio.
– A gente teve aula mais cedo. Mas viríamos de uniforme de qualquer jeito para representar o nosso grupo. O Pedro II é um colégio público e, por isso, é mais difícil ainda promover essa discussão no dia a dia da escola. As meninas precisam se esforçar para ampliar o alcance dessa discussão – disse a estudante Luisa Caminha, de 18 anos, que integra o Coletivo Feminista do Pedro II de São Cristóvão.
Fonte: O Globo