A cesárea é a intervenção mais antiga no campo da cirurgia abdominal, concebida – reza a lenda – 100 anos antes de Cristo e é um procedimento muitas vezes salvador para a mãe e o feto. Porém, ocorre hoje em alta prevalência, sem justificativas, em muitos países (incluindo o Brasil). Além das já conhecidas intercorrências no período neonatal, onde Síndrome de Desconforto Respiratório, Síndrome de Retardo de Absorção de Líquido Pulmonar, Hipertensão Pulmonar e, por vezes, sérias complicações advindas destas situações são, frequentemente, consequência de intervenções mal indicadas, a avaliação errada da idade gestacional pode culminar em nascimentos prematuros.
Recentemente, vários estudos vêm encontrando correlação entre esta modalidade de nascimento e ocorrência futura de obesidade, asma, dermatite e diabetes tipo 1, ocorrendo com risco duas vezes maior que em crianças nascidas de parto vaginal (4,8% vs. 2,2%).
Estudos brasileiros indicam prevalência mais elevada (33%) de obesidade em crianças nascidas por cesariana e quase 50% mais alta aos 19 anos, quando comparados com as crianças nascidas de parto vaginal. A flora intestinal dos nascidos por cesariana é menos numerosa em bifidobactérias e mais colonizada por outros patógenos, devido à privação do contato com as bactérias encontradas principalmente no canal de parto e reto maternos, com consequente desbalanço no microbioma (inclusive com uma flora semelhante à que se vê em indivíduos diabéticos) – esta é uma das hipóteses que fundamentam os achados.
Estudos noruegueses sugerem prevalência de asma significativamente mais elevada nos primeiros 36 meses de vida em crianças nascidas por cesariana.
Diante disso, indicações criteriosas devem ser respeitadas e encorajadas, e cesáreas, sem justificativas plausíveis, questionadas, papel este que cabe aos pais e pediatras.
Fonte: EBC