Segundo Sonia Guajajara, assim como indígenas, há casos de garimpeiros contaminados por malária, DSTs e outras enfermidades. Preocupação é que doenças cheguem às cidades próximas ao território.
A ministra dos Povo Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou nesta terça-feira (7) que está preocupada com a disseminação de doenças em Boa Vista com a saída dos garimpeiros ilegais da Terra Indígena Yanomami, maior território indígena do país.
Há casos de garimpeiros contaminados por malária, DSTs e outras enfermidades. A preocupação é que, com a saída dos garimpeiros, doenças cheguem às cidades próximas ao território.
“Em Boa Vista, há uma preocupação para articular essas ações de saúde para evitar que as doenças sejam disseminadas de forma descontrolada para a população”, disse ela em entrevista à GloboNews.
“O Ministério da Saúde está também trazendo essa situação para ser discutida no âmbito do Comitê de Operações Emergenciais, que inclui vários órgãos, incluindo MS, Funai, Sesai, Ministério da Justiça, Defesa e Direitos Humanos”, completou.
Maior território indígena do país, a Terra Yanomami enfrenta uma das piores crises sanitárias da história em três décadas de demarcação. Devido ao avanço do garimpo ilegal na região, crianças e adultos enfrentam casos severos de desnutrição e malária.
A estimativa é que ao menos 20 mil garimpeiros estejam ilegalmente na Terra Indígena Yanomami. A ação ilícita deles causou uma crise humanitária sem precedentes no território.
São pouco mais de 30 mil Yanomami na área que deveria, por lei, ser preservada. No entanto, a comunidade tem sofrido com o avanço do garimpo ilegal, que só em 2022 cresceu 54%.
A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devastação ao meio ambiente — com o aumento do desmatamento, poluição de rios devido ao uso do mercúrio, e prejuízos para a caça e a pesca, impactando nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.
Com a água e os peixes contaminados, os indígenas também não têm alimento para comer, já que vivem de pesca e caça. Com isso, desde o início da situação de emergência declarada pelo Ministério da Saúde, os indígenas têm recebido cestas básicas.
Investigação
Durante a entrevista, a ministra afirmou que uma das maneiras para acabar com os garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami é chegar até quem finança a exploração dentro do território e punir essas pessoas.
“Precisa ter uma investigação mais aprofundada para saber quem está lucrando tanto com esse abuso de exploração de trabalho, dessa mão de obra dos garimpeiros, como também das mortes dos Yanomami. É preciso que alguém, de fato, que tenha comando, seja penalizado”, disse.
Guajajara está em Roraima desde o último sábado (4) e fez sobrevoos por comunidades dominadas por garimpos dentro da Terra Indígena Yanomami. Ela viu o cenário devastador causado pelos invasores e disse que os garimpos “são infinitos”.
“Os Yanomami querem paz, só isso que eles querem. Querem a retirada dos garimpeiros, dos invasores, para que possam voltar a ter dignidade, possam plantar seus alimentos, possam andar pelo território de forma livre e segura para coletar os alimentos que a natureza oferece.”
Nessa segunda-feira (6), após sobrevoar a região, ela disse que há poluição da água com o garimpo, colocando os Yanomami em condições sanitárias precárias.
“Os Yanomami não têm como beber água, não têm água limpa para beber e, com quem a gente conversou ali, eles imploraram que eles querem limpar aquela água, eles querem água para beber, não tem. As condições sanitárias, de higiene, totalmente precárias”, relata.
Guajajara chegou no domingo (5) à base Surucucu, dentro da terra indígena, onde acompanhou as missões promovidas para levar assistência médica de emergência e suprimentos aos indígenas. Na segunda, ela visitou comunidades no entorno.
Além de avaliar a situação da Terra Yanomami, Sonia Guajajara anunciou as medidas que o governo federal deve adotar para conter a crise. Entre elas está a construção do hospital de campanha dentro do território, para evitar remoções para Boa Vista — uma medida adiantada por Lula em visita ao estado em janeiro deste ano.
No entanto, a construção do hospital depende das condições climáticas e da reforma da pista de pouso que dá acesso ao polo base de Surucucu, unidade referência em saúde do território. Em caso de boas condições, o prazo é de duas semanas, caso contrário, é de três semanas.
Crise humanitária Yanomami
Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. Ele classificou a situação dos indígenas doentes como desumana.
A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.
A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e, inicialmente, por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.
As ações de desintrusão — expulsão dos garimpeiros do território — devem ser coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que no último dia 30 publicou a criação de um grupo de trabalho para elaborar, em 60 dias, medidas de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas.
Com o início das ações de repressão contra a atividade ilegal, como o controle do espaço aéreo, garimpeiros tentam deixar a região.
Vídeos que circulam nas redes sociais desde o dia 31 de janeiro mostram homens e mulheres em grupos deixando a região em barcos ou em caminhadas pela floresta. Eles também têm tentando sair da região em voos clandestinos, mas não estão encontrando pessoas dispostas a buscá-los no território.